Depois de, no final de Julho, ter sido acusado pelo BP do MPLA de ter lançado um "embuste livreiro", e uma "campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional", em particular Agostinho Neto, o historiador luso-angolano Carlos Pacheco decidiu rebater a contestação.
Num artigo de opinião intitulado "Um livro no banco dos réus: triste espectáculo do MPLA", e hoje publicado no site do jornal português Público, o autor de "Agostinho Neto, o Perfil de um Ditador. A História do MPLA em Carne Viva", compara a declaração do BP com "as palavras de Joseph Goebbels, alto hierarca nazi, que dizia muito cheio de si: "Quando ouço falar em cultura, saco logo do meu revólver"".
Acusando o MPLA de estar "ancorado na intolerância e no fanatismo", o historiador defende que "o Partido sempre perseguiu o hábito de desqualificar todos quanto pensam de forma diferente", enquadrando a reacção à sua obra nesta mentalidade.
Segundo Carlos Pacheco, hoje em dia o partido no poder "pouco se distingue do inimigo colonialista que combateu", revelando "iguais tiques de arrogância e poder", e colocando-se "acima das leis, do país e dos cidadãos".
Para o autor, o MPLA "ergueu uma fronteira cerrada à sua volta e obstina-se em ser o único porta-voz da linguagem do independentismo e em se atribuir a si a prerrogativa de posse de todo o conhecimento da história da luta armada de libertação nacional".
O historiador acrescenta que "este traço no MPLA é tanto mais evidente quando se fala da figura política de Agostinho Neto", conforme demonstra, na sua opinião, a declaração de repúdio ao seu livro.
"Falar de Agostinho Neto em oposição à ortodoxia oficial, é para os censores desta organização algo que se confunde com a difamação e a injúria. Digamos que se trata de uma ignorância sem paralelo alimentada pela vã soberba de sacralizar todos os actos de Neto, como se o antigo presidente do MPLA, pelo seu estatuto de "líder heróico" e "pai da pátria", não pudesse ser questionado e nenhum dos seus actos menos exemplares revelados", considera Carlos Pacheco.
O luso-angolano entende ainda que "as palavras do Bureau Político são acrimoniosas e chegam a extrapolar os limites da decência; ferem todos os códigos de civilidade política e até de convivência humana", além de manifestarem um "temor pelas ideias originais".
Excluída da narrativa do autor ficou a intenção já manifestada pela Fundação Agostinho Neto de o processar.
A polémica mereceu também uma análise da Paulo Lara, da Associação Tchiweka de Documentação, e do director do Novo Jornal, Carlos Ferreira, publicada no final de Julho.