O dia de seguda-feira ficou marcado por três momentos distintos, todos a partir do mesmo espaço: o local onde se realizou a reunião do Conselho da República. Num primeiro momento, Samakuva confirma aos jornalistas que solicitou esclarecimentos sobre o acórdão do Tribunal Constitucional que anulou a eleição de Adalberto Costa Júnior. No segundo, o Presidente da República diz esperar que Isaías Samakuva tenha "vindo para ficar". E no terceiro, já depois da reunião, o líder do "Galo Negro" admitiu que o congresso do maior partido da oposição não se realize até 4 de Dezembro, data decidida pela Comissão Política do seu partido. As reacções não se fizeram esperar e desde esta manhã que as redes sociais têm estado ao rubro.

O Novo Jornal procurou ouvir o lado de Adalberto Costa Júnior (ACJ), o líder deposto que Samakuva substituiu na presidência da UNITA e, por inerência do cargo, no Conselho da República. Nelito Ekuiki, apoiante de ACJ, começou por criticar a postura do Presidente da República (PR), que acusa de "não ter qualquer sentido de Estado".

"O Presidente é o garante da unidade do País. O PR, naquele órgão consultivo, em nenhuma circunstância devia demonstrar preferência em relação às lideranças partidárias que com ele vão disputar as eleições em 2022", diz Ekuiki, acrescentando que, "ao fazê-lo, confundiu a cadeira de Presidente da República com a de presidente do MPLA".

Segundo o deputado do "Galo Negro", o PR sabe que "o presidente Samakuva está temporariamente neste papel, fruto do acórdão do Tribunal Constitucional que foi meramente político e ao fazer aqueles pronunciamentos demonstrou aos angolanos e ao mundo que foi ele efectivamente o instrutor deste processo político".

E sobre a candidatura de Adalberto, garantiu que "a UNITA, como partido democrático que é", está aberta a candidaturas múltiplas, mas "os militantes do partido não querem efectivamente outro presidente que não seja Adalberto Costa Júnior".

"E ele vai sê-lo, porque são os militantes da UNITA que ditam a legitimidade dos seus presidentes", reforça.

Ekuiki, que não quis comentar as declarações de Samakuva (nomeadamente que a preparação do conclave obedece a determinados requisitos que é preciso ver se é possível reunir, admitindo que o congresso possa vir a não se realizar até 4 de Dezembro), foi, apesar de tudo, peremptório quando afirmou que a comissão política é o órgão máximo do partido no intervalo de congressos: "a liderança do partido não é unipessoal, é colegial, e as decisões não podem ser unipessoais".

"Dito de outra forma, a decisão que a comissão política tomou e tornou pública é de cumprimento obrigatório. E digo mais: a auscultação da comissão política e a sua deliberação é vinculativa."

Sobre o facto de Samakuva não ter ainda vindo a público a anunciar a data do congresso pode significar um recuo, Ekuiki respondeu que "a data do conclave é pública e a convocação pelo presidente do partido é uma mera formalidade nos termos dos estatutos do partido".

"A vontade expressa de 94 por cento da sala da comissão política não vai ser defraudada, naturalmente, por ninguém, e nós não vamos permitir que forças estranhas ao partido determinem o nosso futuro, tão pouco nos mostrem o caminho", declarou, acrescentando que "isso significa que o presidente deverá anunciar o congresso nos próximos dias".

"Eu quero mesmo dizer aos angolanos para ficarem serenos. Nós vemos que há uma grande vontade do Presidente da República em interferir no processo político da UNITA, diria mesmo, ironizando, que parece que ele tem grande vontade de ser militante da UNITA, mas a UNITA é um partido bastante maduro, que cresceu na dificuldade", disse ainda Ekuiki.