Para chegar ao novo recinto é preciso enfrentar oito quilómetros de carro numa estrada estreita, sem sinalização e com falta de iluminação, frequentada também por uma grande quantidade de camiões basculantes.

Transferidos em Novembro do ano passado da zona do "Kifica", no Benfica, para o novo espaço, à beira da estrada nacional número 100, no sentido Luanda - Barra do Kwanza, mesmo ao lado do Museu da Escravatura, os artistas e artesãos queixam-se da falta de clientes e de se passarem meses sem que consigam realizar uma venda.

O novo Centro de Arte Benfica, construído pelo Governo angolano, concilia 10 mil metros quadrados de zonas verdes e quase oito mil de espaço para exposição, numa área que dispõe de atelier, café, auditório, armazém, edifício técnico, instalações sanitárias, guarita e escritório.

Mas o recinto parece agora demasiado grande para os pouco mais de 90 vendedores que o Novo Jornal Online encontrou. No passado chegaram a ser mais de 700. Hoje, o cenário é desolador, com os poucos artesãos que restam a abrir as bancas dos que já não se deslocam por não compensar fazer a viagem.

São dias a fio sem ver um cliente, segundo Daniel João, professor de arte e pai de oito crianças, que se diz preocupado com a desistência em massa dos seus colegas: "Ficamos um mês sem vender uma peça, mas no final de semana temos de pagar a renda da nossa banca. É compreensível que eles já não queiram vir. Este é o único espaço reconhecido a nível nacional e internacional no país, mas o local não nos ajuda em nada para comercializamos as nossas artes, estamos frustrados e à procura de outras oportunidades de emprego", lamenta.

Quem visitasse o antigo mercado poderia escolher o artista que mais lhe agradasse e pedir-lhe peças personalizadas. Agora, são já poucos os artesãos que ali trabalham, optando por expor os muitos artigos que vão sobrando de dia para dia, sem que haja compradores para eles. O tempo passa e o novo parece ficar velho, por causa da pouca clientela, o que não permite a renovação de peças.

São na maioria homens quem dá vida ao Centro de Arte do Benfica. Os preços das peças variam entre os dois mil e os 40 mil kwanzas. Algumas, um pouco mais.

Nuno Kassidimoko é revendedor. Compra os produtos na República Democrática do Congo, Congo Brazzaville, Rwanda, Nigéria, Gabão, Camarões Etiópia, Marrocos e Argélia, bem como países asiáticos, como China, Coreia, Japão e Emirados Árabes Unidos.

Confessa que está agora mais difícil vender os produtos, principalmente aos preços inicialmente estabelecidos, por falta de clientes: "às vezes avançamos um preço, se o cliente regatear muito, somos obrigados a vender a peça pelo valor que nos custou. Porque há peças que ficam connosco muitos anos", diz.

Nuno Kassidimoko refere que este espaço não é concorrido, como era o do antigo mercado, "Muitos não conhecem o sítio, outros alegam distância e falta de condições das estradas. Muitas vezes ficamos mesmo entre um a dois meses sem vender uma peça", conta.

Mestre Nzunzi, artista que trabalha sobretudo em madeira, junta-se à conversa: "Seria melhor se houvesse sinalização desde o Centro da cidade até aqui, ou colocassem autocarros com término no Museu da Escravatura", diz. O artesão conta que muitas pessoas apenas param no término do Benfica e depois têm dificuldade em chegar ao Centro de Arte, no Museu da Escravatura.

N"Bila António é artista plástico há 28 anos. Afirma que o centro de artesanato não oferece condições para a venda de quadros: "Vendemos ao ar livre e debaixo do sol ardente, coisa que não acontecia no antigo mercado". E acrescenta: "Os quadros não podem a apanhar sol nem chuva, mas fomos transferidos nestas condições, parece que não nos querem aqui, já fizemos varias reclamações e nada, não percebo como isto é possível".

Ivone Miguel Cabiri é uma das poucas mulheres. Faz e comercializa cestaria. Com uma criança ao colo, conta que toda a família vive da sua profissão, pois o marido vende os produtos manufacturados por ela. E deixa o lamento: "Não sei fazer mais nada, dei toda minha vida a esta profissão e a este negócio".

Ivone diz mesmo que alguns clientes telefonam para saber onde estão, mas quando ficam a saber que estão tão longe, desistem, por causa da distância e das condições em que está a estrada embora reconheça que a crise que o País atravessa também não ajuda.

Administração aconselha os artesãos a baixar os preços

Já a administradora do Centro de Arte, Fernanda Gabriela Baião, contactada pelo Novo Jornal Online, assegura que muitas das reclamações dos artesãos são injustificadas, pois "o Estado sempre salvaguardou os seus direitos e deu o seu melhor para elevar a cultura angolana".

Na perspectiva da administradora, "o espaço do antigo mercado tinha proprietário, e o dono precisou do terreno. Por este motivo, houve a necessidade de protecção dos artesãos com a construção deste centro, de modo a acomodá-los num espaço apropriado para o efeito".

Para a responsável, o "centro encontra-se vazio não por causa da distância, mas por causa da crise financeira que País atravessa".

De acordo com Fernanda Gabriela Baião, o centro de artesanato do Benfica não é o único mercado vazio e garante que "a direcção está a trabalhar para melhorar as condições de acesso ao centro". "Tivemos recentemente um grande encontro com o governo provincial de Luanda e os ministérios da cultura, hotelaria e turismo e do ambiente em que analisámos essas questões, para encontrarmos soluções que permitam a visita de mais turistas a este local, nomeadamente no que respeita ao melhoramento da estrada", diz.

A responsável pelo Centro de Artesanato do Benfica declara também que muitos dos turistas e visitantes locais têm reclamado junto da sua administração por causa dos preços praticados pelos artesãos e aconselhou os vendedores a baixar os preços dos produtos para que assim possam atrair mais compradores.