Alguns media especializados voltaram a falar da presença de centenas de petroleiros em alto mar carregados de crude que ou ninguém quer ou à espera de melhores preços, o que deveria, em circunstâncias normais, avermelhar os mercados... não fora o efeito Trump aparecer para alegrar os gráficos.

E é tanto assim que não há um único media especializado que não esteja a falar esta segunda-feira, 27, da forma como as sanções anunciadas pelo Presidente Donald Trump sobre o crude russo alterou radicalmente o sentido dos mercados do vermelho para o verde em horas.

O que é um fenómeno curioso porque ao castigar a Rússia de Vladimir Putin, o norte-americano está a punir os "EUA de Trump", porque o resultado do "efeito Trump" levou ao surgimento do que Trump mais pretende evitar, que é o aumento do preço da matéria-prima por causa do efeito que isso tem na economia americana, especialmente na inflação e no consumo que, por sua vez, se reflecte no declínio do emprego, a maior dor de cabeça da sua Administração.

Em apenas algumas horas após o anúncio das sanções à Lukoil e à Rosneft, o crude ganhou em media 6%, podendo esse crescimento continuar porque, ao contrário do que veio dizer Putin, surgiram já notícias de que esta semana algumas refinarias na Índia e na China cancelaram ou suspenderam encomendas russas...

O que é uma faca de dois gumes para Trump, porque, como sublinha à Reuters Luke Wickenden, analista do Centre for Research on Energy and Clean Air (Crea), se os russos perderem a cesso a estes mercados, Cinha e Índia, ficam sem quase 7,5 mil milhões USD mensais, enfraquecendo a sua capacidade de alimentar a máquina de guerra na Ucrânia como pretende a Casa Branca.

Mas o efeito que entra pelas traseiras pode obrigar Donald Trump a pensar melhor, porque o barril, tanto de Brent como o WTI em Nova Iorque, já começaram, como era esperado entre analistas, a trepar nos gráficos e a ameaçar danos na economia norte-americana, que, apesar de produzir mais de 102 mbpd, consome o dobro do que extrai.

E é neste contexto que o barril de Brent, referência principal para as exportações angolanas, estava esta segunda-feira, 27, perto das 14:40, hora de Luanda, a valer 65, 95 USD, uma subida ligeira de 0,3%, embora com altos e baixos frequentes, mas com tendência para aguentar globalmente os ganhos substantivos das duas anteriores sessões.

Estes dados são sempre lidos com atenção pela equipa económica do Governo angolano porque Angola devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que o país atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.