O avanço desregrado do novo coronavírus desde que este surgiu na cidade chinesa de Wuhan, em meados de Dezembro de 2019, levou a que, a partir de Fevereiro desde, o barril de crude fosse abrasivamente afectado pelos sucessivos confinamentos e a suspensão das principais economias do planeta, desde logo a chinesa.

Daí até que a infecção se instalasse em todos os 196 países e territórios do mapa mundi foram apenas mais dois meses e em Abril, o barril atingiu o valor mais baixo de décadas, graças a mais violenta crise económica mundial desde o crash bolsista de 1929, nos Estados Unidos, ficando para a história os 40 USD negativos a que chegou cada barril no WTI de Nova Iorque nesse mês, ou seja, mesmo pagando 40 dólares norte-americanos, não havia ninguém interessado em ficar com ele.

Isto é importante, porquê? Porque aconteceu num momento em que a pandemia da Covid-19 levou a severas restrições de movimentos em todas as grandes economias e, apesar de com menos vigor, essas mesmas potências económicas, confrontadas com o recrudescimento da infecção, estão a aplicar, de novo, medidas de confinamento parcial0

E a interrupção dos testes clínicos de uma vacina pela farmacêutica anglo-sueca Astrazeneca, que era a mais promissora das dezenas que estão em fase de testes, e estava a ser elaborada em colaboração com a Universidade de Oxford, ainda promete abalar mais a confiança tanto dos consumidores como dos governos.

A par destas ameaças ao comportamento do crude, que pode afectar de forma dramática todas as economias mas em especial as mais dependentes das exportações da matéria-prima, desde logo Angola e a Nigéria - os dois maiores produtores africanos -, mas também, na linha da frente, estão os países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, ou mesmo a Rússia e os Estados Unidos - os três maiores produtores mundiais.

Perante este cenário pouco animador, na quarta-feira, o barril ainda deu um ar da sua graça ao ganhar de forma muito ligeira, permitindo um pequeno alívio de valores mais baixos em três meses alcançados já esta semana, mas hoje voltou a mergulhar para o buraco das perdas atingindo, perto das 09:30, (Brent) os 40.31 USD, menos 1,18 % que no fecho da última sessão.

Em Nova Iorque, o WTI tinha, à mesma hora, e também para os contratos de Outubro, igual mau comportamento, pderdendo ainda mais, 1,50 %, para os 37,48 USD.

Ou seja, como enfatiza a generalidade dos analistas ouvidos hoje pelos sites especializados e as agências, o mercado petrolífero está sob "forte pressão" e apertado pelas pontas de uma tenaz global, com a diminuição da procura e a ameaça pandémica, exemplificada com as crescentes reservas nos EUA e o aumento da oferta disponível ao mesmo tempo que do lado da procura os sinais são inversos, estando esta em diluição, como o deixa antecipar e mostra a estagnação das importações chinesas.

A expectativa de medidas sólidas de reequilíbrio dos mercados são, no entanto, esperadas, pelo menos que sejam admitidas, durante a reunião do painel de monitorização dos mercados da OPEP+, organização que junta, desde 2017, os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de aliados liderados pela Rússia,, agendada para 17 deste mês.

O que os analistas esperam é que, face ao recrudescer do número de novas infecções, na já denominada 2ª vaga da Covid-19, pelo menos na Europa, EUA, Austrália, Índia e Brasil, a OPEP+ possa rever o seu plano de cortes à produção em vigor desde 01 de Julho, que foi de 9,7 milhões de barris por dia (mbpd) até 31 de Agosto e, agora, pelo menos até Novembro, está previsto que se mantenha nos 7.7 mbpd, excepto se, como se está a mostrar ser o caso, o cenário global se alterar substancialmente.

Alguns analistas já admitem que a OPEP+ possa regressar aos 9,7 mbpd de subtracção na produção, o que irá afectar ainda mais a economia angolana, visto que Angola é um dos três países, a par da Nigéria e do Iraque, que o "cartel" aponta como não tendo cumprido a sua quota parte na redução anterior e estavam agora obrigados a repor essas falhas até Novembro, podendo, agora, ser esse cumprimento ainda mais difícil para a produção nacional que está, desde 2014, em claro declínio, tendo mesmo passado, segundo dados da AIE, de mais de 1,44 mbpd para menos de 1,3 mbpd actualmente.

Recorde-se que Angola, depois de revisto o OGE 2020, tem como valor de referência para as suas exportações os 33 USD por barril.

E, depois da Fitch, também a agência de notação financeira Moody"s reviu, na passada terça-feira, em baixa o rating da dívida soberana de Angola de longo prazo, emitida em moeda local e estrangeira, de B3 para Caa1, alicerçando a decisão na continuada queda no preço do petróleo e ainda por causa da pandemia, bem como o agravamento da contínua desvalorização do Kwanza, factores que contribuíram para "o enfraquecimento significativo das já fracas finanças públicas e da frágil posição externa" de Angola.