Aquele que é um dos grupos criminosos mais conhecidos e poderosos da América Latina ripostou contra a megaoperação da polícia do Rio de Janeiro com armas pesadas e, pela primeira vez, com drones armadilhados com granadas, replicando o que sucede na guerra da Ucrânia.
Naquela que, longe de ser a primeira operação deste tipo no Rio de Janeiro, é já a mais violenta de sempre e tem como originalidade o uso de drones de ataque além de, como nunca aconteceu antes, como revela a imprensa local, os criminosos usaram autocarros para bloquear as artérias por onde a polícia deveria entrar nos seus domínios, concentrados nas favelas (Musseques) do Rio.
Pelo menos 50 autocarros de transporte público foram roubados e utilizados pelos narcotraficantes para bloquear ruas e avenidas, segundo a RioÔnibus, empresa responsável pelo serviço, citada pelos media.
Com ruas e avenidas bloqueadas por autocarros e barreiras, algumas carreiras de autocarros alteradas para evitar zonas com tiroteios e longas filas nas estações de comboio suburbano e de metro, os cariocas tiveram dificuldades para regressar a casa ao final da tarde.
As universidades, incluindo a prestigiada Universidade Federal do Rio de Janeiro, e várias escolas públicas e privadas de vários bairros da cidade já tinham encerrado as portas e enviado os alunos para casa.
A RioÔnibus informou que teve de alterar os itinerários de 120 carreiras de autocarros devido aos tiroteios e ao bloqueio das vias.
O presidente do município do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, explicou que as medidas adoptadas, especialmente a decisão de que todos os serviços públicos continuem a funcionar normalmente e prolonguem os horários, visam evitar que a cidade brasileira seja paralisada por grupos criminosos.
"O Rio não pode tornar-se refém dos grupos criminosos", afirmou Paes numa conferência de imprensa no Centro de Operações, de onde coordena as medidas para reverter a paralisação da cidade, citado pela Lusa.
O autarca acrescentou que os grupos criminosos também recorrem a notícias falsas nas redes sociais para tentar gerar pânico e paralisar ainda mais a cidade.
"Não podemos aceitar que esses grupos criminosos tomem o controlo da cidade desta forma. Já é inaceitável perder parte do nosso território e menos ainda ver a cidade inteira paralisada", declarou.
Tanto a Polícia como a Guarda Municipal estão a envidar esforços para remover os autocarros e camiões com que os criminosos bloqueiam as vias, mas os narcotraficantes erguem barricadas noutras zonas.
Entre as vias afectadas figuram algumas das mais importantes da cidade, como a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, a Linha Amarela e a Via Grajaú-Jacarepaguá, na zona norte e oeste da 'cidade maravilhosa'.
Um grupo chegou mesmo a bloquear por alguns minutos, com um camião, a principal via de acesso ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro, o que provocou atrasos entre os passageiros, embora sem levar ao encerramento do terminal.
Os bloqueios foram ordenados pelo Comando Vermelho depois de cerca de 2.500 polícias terem ocupado, desde a madrugada, as comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, numa operação destinada a prender os líderes da organização.
Segundo o último balanço, na operação morreram 64 pessoas, incluindo quatro polícias, e foram detidos 81 alegados membros da organização criminosa, à qual foram apreendidos 93 espingardas e "enormes" quantidades de droga.
Esta já é a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro
O Comando Vermelho dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia.
A organização nasceu na década de 1980, quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.
Na operação, que ainda decorria já na manhã desta quarta-feira, 29, foram mortos dois polícias civis e dois polícias militares, durante um combate que se iniciou de manhã e no qual os membros da organização criminosa utilizaram várias armas de fogo de alto calibre e até 'drones' com bombas.
Além das vítimas mortais, três pessoas inocentes foram baleadas, nomeadamente um homem em situação de sem-abrigo, atingido nas costas por uma bala perdida, uma mulher que estava no ginásio e um homem que estava num ferro-velho.
A Operação Contenção, que visa deter líderes criminosos do Rio de Janeiro e de outros estados, e de combater a expansão do Comando Vermelho, mobilizou cerca de 2.500 agentes, que entraram em confronto com os alegados criminosos, com o objectivo de cumprir 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.
Pelo menos 45 escolas fecharam, cinco clínicas suspenderam os atendimentos e 12 autocarros desviaram o seu trajecto devido à operação, segundo a imprensa brasileira.
"Peço aos moradores da região que permaneçam em casa enquanto as forças de segurança actuam", apelou o governador.
Esta tornou-se a operação mais mortal da história da cidade do Rio de Janeiro. A segunda mais mortal aconteceu em maio de 2022 em Jacarezinho e número de mortos não passou dos 28. Em terceiro lugar, a operação em Vila Cruzeiro, que em maio 2022 matou 24 pessoas.
O Comando Vermelho, foi criado em 1979 nas prisões do Rio de Janeiro e é actualmente uma das organizações criminosas mais perigosas do mundo.

