No passado fim-de-semana, o CEMGFA russo, general Valery Gerasimov, veio confirmar que esse cerco era efectivo e que as mais de dez mil tropas cercadas estavam sem saída que não fosse o martírio ou a rendição, levando o Presidente Volodymyr Zelensky a negar tudo, admitindo dificuldades mas garantindo a capacidade de resistir aos avanços russos.
Com esta troca de juízos sobre a condição dos milhares de soldados ucranianos nestas cidades, os analistas pró-russos começaram a admitir que se tratava de uma situação de grande relevo para o desfecho do conflito, porque, face à escassez de recrutamentos na Ucrânia, desrções e baixas, a perda de tantos homens seria um golpe de difícil reversibilidade em Kiev.
Enquanto isso, nos media ocidentais, os analistas pró-ucranianos mantinham, e mantêm, a versão de Zelensky sobre dificuldades, mas longe de estarem irreversivelmente condenados à rendição ou a combater até â morte como sucedeu nos casos famosos de Bakhmut ou Avdiivka.
Para esclarecer a situação, provavelmente para evitar que as forças russas tenham de se aplicar ao longo de semanas para "limpar" estas cidades da presença militar ucraniana, porque dificilmente o comando em Kiev lhes dará ordens para se renderem, o Presidente russo apresentou esta quarta-feira, 29, uma proposta original e irrecusável no que diz respeito ao apuramento da verdade.
Em Moscovo, Vladimir Putin ofereceu a Kiev "a cessação temporária das operações militares" para que jornalistas ocidentais possam ir aos locais e verificar se as 10.500 tropas estão mesmo cercadas, como garantem os russos, ou, como afirma Zelensky, a presença naquelas cidades, Kupyansk e Pokrovsk, é fruto da sua resistência aos avanços das forças do Kremlin.
Porém, se Putin avançar mesmo com a oferta e esta for aceite do lado ucraniano, com ou sem a presença de jornalistas, o que estará a acontecer é um avanço fulgurante no caminho da paz, porque será o primeiro cessar-fogo efectivo nestes quase quatro anos de guerra, com excepção de duas ocasiões em que tal foi proposto para a saída de civis de localidades na linha da frente ou para a recuperação de corpos de soldados mortos em combate.
Recorde-se que existe a possibilidade de, por portas travessas, Vladimir Putin estar a oferecer ao Presidente norte-americano uma resposta positiva à sua proposta de cessar as hostilidades na actual linha da frente para, a partir daí, se conversar sobre o fim do conflito.
Alias, esta proposta de Putin pode mesmo ser o principio do fim da guerra na Ucrânia, porque ela vai igualmente de encontro, mesmo que parcialmente, ao que Volodymyr Zelernsky disse na semana passada, sobre a preparação de uma proposta aos russos, com apoio dos aliados europeus, para a cessação das hostilidades.
"A liderança ucraniana tem de tomar uma decisão sobre o destino dos seus militares que estão actualmente cercados", disse Putin, citado pela russa RT, advertindo Kiev para as consequências severas se tentar algum truque enquanto os jornalistas estiverem na zona, caso venha a aceitar a proposta.
Nas próximas horas, se Zelensky aceitar a proposta de Putin e os jornalistas ocidentais, mas também russos e ucranianos, entrarem na zona em questão, o mundo poderá muito bem estar a observar o fim da guerra na Ucrânia.
É que Putin advertiu Zelensky para as consequências de recorrer a truques durante a pausa nas hostilidades, mas nada disse sobre ele próprio estar a usar truques para corresponder ao pedido de Trump sem parecer que está a ceder...

