Curioso, servi-me de várias oportunidades que tive, ao longo dos anos 2018 e 2019, para perguntar a diplomatas nossos, que pela sua senioridade e posição podiam ajudar-me a perceber o entendimento que se atribuía ao conceito, a estratégia para a sua implementação e os resultados esperados. Era sempre respondido com evasivas, e num caso específico um diplomata respondeu sem hesitação: "Ó Jardo, sinceramente não sei".

Percebi então que "diplomacia económica" era apenas um slogan bonito que, ao nível de imagem, servia o novo governo e parecia diferenciar o consulado do novo titular do MIREX, projectando a ilusão de renovação organizacional e adequação dos objectivos da diplomacia angolana aos novos tempos, ora anunciados.

Chegados ao fim do consulado de Manuel Augusto, vem a público informação que demonstra um período marcado por hábitos antigos, lutas intestinas que nada têm a ver com o interesse nacional, ausência de uma nova visão para a diplomacia e a consequente desorientação funcional das embaixadas.

Noutros termos, ninguém traduziu o conceito "diplomacia económica" em plano de acção para implementação por parte dos agentes diplomáticos. O que se verificou de "diplomacia económica" ficou nos eixos estratosféricos das viagens presidenciais, enquanto as embaixadas continuam sem recursos nem informação actualizada sobre as várias iniciativas do governo, no que diz respeito às reformas, prioridades do programa de desenvolvimento, facilidades introduzidas no processo burocrático ou mesmo em relação aos sectores abertos ao investimento. Inquéritos básicos de interessados dirigidos às embaixadas são remetidos a Luanda, e, na maior parte dos casos, ficam sem resposta.

O actual titular, Téte António, disse, no dia do seu empossamento, que iria fazer diplomacia para promover "a boa imagem de Angola" e enfocar na "vertente económica para atrair investimentos". Parece-me haver aqui uma ligeira inflexão de pensamento.

O antigo ministro parecia falar da "diplomacia económica" como dimensão exclusiva ou a totalidade da actividade do sector, cuja implementação generalizada se afigurou difícil de praticar no universo diplomático. Isto, associado aos constantes atrasados de recursos financeiros, criou a desorientação acima referida, e paralisia dos agentes diplomáticos, sobretudo em praças sem benefícios económicos para Angola.

Países, como o Zimbabwe, por exemplo, que não têm nada para vender, não têm instituições financeiras nem empresas dinâmicas, podem ter valor político, militar ou cultural, mas não podem ser terreno para "diplomacia económica".

Daí que Angola precisa de voltar à visão diplomática multidimensional e, tendo em conta o nosso nível de desenvolvimento económico e as nossas necessidades, eleger as dimensões, política - constante em todas as praças -, económica, militar e cultural. Nos tempos de austeridade que correm, podem ser integradas quase todas as vertentes da diplomacia nestas quatro dimensões.

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*Membro da Comissão Política da UNITA