A radicalização é um processo em fases, no qual um indivíduo ou um grupo adopta uma ideologia radical que pode levar a uma maior disposição de tolerar ou usar a violência para fins políticos, desafiando a legitimidade das normas e políticas estabelecidas. Não leva, por si só, à violência, mas desafia a lei e tenta promover mudanças através do diálogo político. Quando se detectam sinais de radicalização nas comunidades, significa que existe a possibilidade de deflagar em extremismo violento - e é no processo inicial de radicalização que se devem tomar medidas para a prevenção do extremismo.

O extremismo aceita a violência como um meio legítimo de obter objectivos políticos sem necessariamente exercer a violência e envolve pensamentos categóricos de nós-contra-eles, muitas vezes alimentados por um ambiente denso e fechado de indivíduos afins. A aprovação do uso da violência, inclusive contra civis, é alimentada por um ambiente interno e/ou externo que propicia e financia as suas acções. Em Cabo Delgado, a pobreza tem sido a principal causa para explicar o terrorismo que assola aquela parte do país. A sistemática marginalização política e eventuais interesses internacionais ligados à indústria de exploração de hidrocarbonetos também são algumas das correntes que explicam ou podem explicar a violência que se tem registado naquelas áreas.

Recentemente, e cerca de três anos depois da deflagração da violência em Cabo Delgado e menos de um ano após a assinatura do Acordo de Paz definitivo, o Governo de Moçambique, através do PR, reconheceu oficialmente e pela primeira vez que o país estava em face a ataques terroristas num contexto em que se preparava ou devia preparar para integrar os esforços de construção da paz. Com recurso à abordagem de Peacebuilding, que inclui várias formas de prevenção de violência extremista e todo o esforço de conter a sua propagação através de programas destinados a prevenir conflitos, fortalecer o estado de direito e promover a paz, a tolerância e a resiliência das comunidades.

Como poderá Moçambique engajar-se num processo de construção da paz e engajar os países da região sem que tenha primeiro esclarecido os ataques que, depois da assinatura do Acordo de Paz, iniciaram ainda que esporadicamente no centro do país? Como é que os ataques terroristas em Cabo Delagado poderão influenciar na capacidade de o Estado definir as melhores opções de Peacebuilding com ameaças à sua segurança e, por fim, como é que a SADC poderá ser parte destes esforços? Para já, a troika de Política, Defesa e Segurança da SADC reuniu-se esta semana, e um dos pontos de agenda era a situação de segurança de Moçambique.

O país começa, deste modo, a mobilizar esforços e a reconhecer que precisará de coordenação regional para fazer face às múltiplas ameaças com as quais deverá lidar nos próximos anos. Entretanto, as melhores opções para um processo de peacebuilding exitoso em contextos de violência extrema deverão incluir a ocupação de espaços não-garantidos na sociedade e na vida das comunidades (popularização da segurança), o fortalecimento à capacidade da sociedade civil e eventualmente uma reforma do sector de segurança, que é dos mais importantes quando pensamos em construção da paz. O Desafio está lançado!