Recentemente celebramos 45 anos da Dipanda num cenário dos mais desafiadores da história recente do País, que envolve a pandemia da Covid-19, para além de (in) certezas quanto as autarquias; luta contra a corrupção; crescimento e (des) igualdade, agravado por um quadro de recessão persistente que tem deteriorado o já elevado custo de vida, e a tentativa de diversificação da economia, dentre outras.
Em 45 anos, qual é o peso ou, se quisermos, quais são as implicações dos custos de oportunidade para o nosso "jovem" País?Educação - é o mais importante sector e o mais marginalizado entre os seus pares, ao longo dos 45 anos de independência não fomos capazes de criar um sistema educacional organizado, robusto e competente, capaz de estimular a criatividade e captar as oportunidades que o ambiente nos apresentam. Consequências: perda de potencial humano e distribuição distorcida da provisão de serviços.
Saúde - prescindimos da oportunidade de descentralização que permitiria (precocemente, junto à população) acesso aos serviços através do fortalecimento da rede de postos e centros de saúde e de construção de pequenos hospitais municipais com as quatro valências de cuidados médicos (cirurgia, medicina, gino/obstetrícia e ortopedia). Consequências: distribuição distorcida da provisão de serviços.
Económico - negligenciamos o modelo de diversificação e promoção da produção industrial, capaz de fazer uso intensivo da mão-de-obra, flexibilizar o mercado de trabalho, o crescimento do empreendedorismo e estimular o desenvolvimento de infra-estrutura para criar mais emprego. Deixamos de parte a oportunidade de assegurar a concentração do crescimento nas áreas em que população mais pobre faz a sua subsistência, para promover um crescimento inclusivo.
Justiça - oportunidade de (re)fundação do Estado que passa pela reestruturação ou institucionalização de organismos políticos administrativos que assegurem e respeitem o ideal democrático.
Política - oportunidades de não fazer emergir lideranças fortes capaz de mobilizar a maioria das forças políticas e sociais para a construção da paz, da democracia e do desenvolvimento e serem verdadeiros construtores do futuro. A oportunidade de ter uma diplomacia mais proactiva e influente ao serviço do desenvolvimento económico redobrando a sua acção na defesa dos interesses nacionais na arena internacional.
Social - a oportunidade de manter diálogo social inclusivo e permanente, ou seja, uma nova narrativa que não exclua os cidadãos apartidários, exige, a todos os interlocutores, uma posição horizontal, que não esteja revestida de quaisquer privilégios e predestinação. Oportunidade de adequar a forma de agir, convencer, e até mesmo a forma de passar normas, a realidade social e cultural do País. Oportunidades de proporcionar a Geração da Paz, mais oportunidades, mais cidadania, mais participação e inclusão.
Enfim, a oportunidade de mudar a forma como se pensa Angola que, passa por colocar a educação, as artes e a cultura na vanguarda do desenvolvimento, ou melhor, de reconciliarmo-nos com a nossa própria história.
*Professor no CIS