Esta necessidade, como se depreende dos contactos feitos pelo Novo Jornal junto dos partidos da oposição, resulta de, ao fim destes anos após o calar das armas, ainda existirem situações de intolerância política, exclusão social, que impede a paz social, e a partidarização do Estado.
"Essa iniciativa da igreja Católica de promover um congresso de reconciliação nacional, é sem dúvida, de louvar e é de certeza uma boa oportunidade para nos reconciliarmos enquanto país", começou por destacar Ernesto Mulato, membro do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA.
Segundo este dirigente do maior partido da oposição, a UNITA entende que o facto de a sociedade civil ainda sentir esta necessidade, mais de duas décadas após o fim da guerra, em 2002, mostra que compete a todos os angolanos trabalharem em conjunto pela unidade, estabilidade e progresso do país.
"Não há qualquer intenção de retorno à guerra. Para nós, a UNITA, esse capítulo está definitivamente encerrado", acrescentou, frisando que o processo de reconciliação e o seu fortalecimento é uma responsabilidade de todos os angolanos e das instituições.
Para o antigo vice-presidente da UNITA, "desde o início, o regime que governa o país há mais de 50 anos, tem resistido à realização de um encontro nacional onde as pessoas possam expressar o seu passado, partilhar experiências e curar as feridas da alma".
"Contudo, se por reconciliação entendemos o reconhecimento mútuo, não apenas entre os ex-combatentes, mas também entre os cidadãos comuns, então essa reconciliação ainda não foi plenamente alcançada", concluiu.
O secretário-geral do PRA-JÁ Servir Angola, Américo Chivukuvuku, lembrou que Angola viveu um longo e devastador conflito armado que durou até 2002, após a luta contra o colonialismo português e a subsequente guerra civil entre os movimentos nacionalistas, deixou um legado onde ainda sobressaem sérios problemas ligados à inacabada reconciliação nacional.
"A reconciliação é vista como fundamental para o desenvolvimento sustentável do país. Este congresso vai ajudar a unir os angolanos para esquecerem o passado", disse, destacando que a iniciativa da CEAST vai ajudar os angolanos a caminharem juntos na construção da estabilidade e no fortalecimento e respeito pela cidadania.
Na sua opinião, os caminhos difíceis para a reconciliação nacional em Angola incluem a persistência da divisão ideológica e política, a falta de uma inclusão social e económica genuína que abranja todas as comunidades, e, entre outros pontos, a necessidade de tapar as "feridas abertas" na guerra.
"A sociedade angolana continua profundamente dividida entre os apoiantes do partido no poder e da oposição, isto fragiliza a união nacional. Não podemos continuar assim", aconselhou.
O deputado do PRS, Rui Malopa Miguel, diz que a reconciliação nacional deve tornar-se uma realidade e os irmãos desavindos perdoaram-se mutuamente, abraçando a sã convivência na base do respeito, da tolerância e do civismo.
"É bem-vindo este congresso, uma iniciativa da igreja Católica. A reconciliação nacional deve ser uma realidade construída através de ações concretas e não apenas palavras, que promovam o acesso equitativo a serviços básicos como educação e saúde, reduzam desigualdades", referiu, sublinhando que a reconciliação nacional exige um compromisso com a justiça social e o desenvolvimento traduzindo-se em benefícios tangíveis e positivos para a vida de todos os angolanos.
A porta-voz da FNLA, Maria Bulenvo, referiu que a reconciliação nacional reside na promoção do perdão, unidade e respeito mútuo entre os angolanos, permitindo a "cura de feridas" sociais e a construção de pontes de diálogo.
"A reconciliação é fundamental para o desenvolvimento socioeconómico, a atração de investimentos, a reconstrução de infraestruturas e a criação de um futuro sustentável para todas as gerações", argumentou.
O líder da CASA-CE, Manuel Fernandes, diz que a verdadeira reconciliação nacional passa pela cura das feridas deixadas pelo conflito armado.
"Todos os angolanos devem valorizar a paz e o processo de reconciliação nacional", resumiu.
Em vários pronunciamentos oficiais, a direcção do MPLA tem vindo a reiterar que a reconciliação nacional é, em síntese, um feito do grande gesto histórico da tolerância e magnanimidade de quem, sendo vencedor, estendeu a mão num abraço verdadeiro de fraternidade inclusiva e solidariedade, compartilhou a vitória e tornou todos vencedores, na certeza de que só juntos é possível construir a paz e a felicidade de todos e engrandecer a pátria.
Refira-se que a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) através da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, realiza nos dias 29 a 30 de Outubro deste ano, Congresso de Reconciliação Nacional.