"A ONU, na sua forma actual, é a única organização com capacidade para agir em nome de todos nós em busca de consensos mundiais a favor da paz e com legitimidade de chamar à razão os Estados-Membros que desvirtuam os seus fundamentos na forma como actuam na cena internacional", disse esta terça-feira, 23, João Lourenço, durante o seu discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

"Por isso, devemos preservá-la a todo o custo e adaptá-la às realidades do mundo contemporâneo na base de reformas que se impõem com urgência", acrescentou que defendeu a reforma do Conselho de Segurança nos termos da posição comum africana, plasmada no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte, adotados há 20.

Sem este passo imprescindível, que já leva um atraso dificilmente justificável, segundo João Lourenço, as Nações Unidas não podem assegurar a concretização do Pacto para o Futuro adotado no ano passado, o qual reconheceu a necessidade urgente de se dotar as Nações Unidas de um Conselho de Segurança mais democrático e equilibrado.

"Este pacto tem a virtude de se constituir numa grande oportunidade para se revitalizar o multilateralismo, tornando-o mais abrangente, para funcionar como uma base de sustentação alargada de discussões a respeito dos temas sensíveis do mundo actual de que destaco, de entre outros também relevantes, as questões sobre o financiamento para o desenvolvimento e o desafio climático", referiu.

O Presidente da República disse que Angola tem procurado prestar uma contribuição honesta e genuína à solução do conflito na região do Sahel, no Sudão e no Leste da República Democrática do Congo.

"Angola, pela sua própria experiência de reconciliação nacional, sabe que a paz duradoura só se conquista com diálogo e compromisso.", referiu frisando que relativamente à RDC, as diligências de Angola criaram um quadro negocial com soluções de paz que, "lamentavelmente", não se concretizaram em Dezembro de 2024, como era expectável, mas que se mantêm como uma plataforma válida para outros esforços que vêm sendo envidados com o propósito de se pôr um fim definitivo a esse conflito.

João Lourenço destacou igualmente a situação no Sahel e no Sudão, regiões que, exigem uma resposta firme e coordenada, face ao aumento do terrorismo, da violência armada e das catástrofes humanitárias.

O também Presidente da União Africana apontou igualmente que "o povo palestino não pode ser confundido com o Hamas" e sublinhou que "não há povos e muito menos crianças terroristas".

"Os palestinos têm direito a um Estado independente e soberano, no qual possam preservar a sua cultura, assegurar o futuro e oferecer perspectivas seguras à juventude", disse assegurando que, esse Estado deverá permitir que os palestinos possam fazer valer a sua cultura, cuidar do seu futuro e abrir perspectivas previsíveis e seguras para a sua juventude.

"Nada pior do que a exclusão da delegação da Palestina deste fórum onde teria o direito de fazer ouvir a sua voz como Estado[1]Membro, à luz dos termos do Acordo-Sede", disse João Lourenço.

Acrescentou que a não garantia da presença do Presidente da Autoridade Palestina nesta Assembleia Geral "emite um sinal muito negativo, pois encoraja a continuação do genocídio a que todos assistimos impotentes e impunemente, adia a resolução do problema e complica os esforços que vêm sendo envidados para se pôr termo a esse intrincado conflito".