Citado pela imprensa portuguesa, Santos Silva, escassos quatro dias após a conclusão da visita de Estado do Presidente angolano a Portugal, entre 22 e 24 deste mês, proferiu uma frase arriscada se retirada de contexto, porque remete para a história da colonização portuguesa do Brasil de onde a coroa portuguesa alimentou, à época, faustosos luxos com o conhecido "ouro do Brasil".

Todavia, o MNE português, nesta conferência organizada por uma firma de advogados, explicou que se referia ao forte crescimento económico bem como, ao que juntou Moçambique, da sua população, que deverá duplicar até meados do século, assumindo, ambos os países, o posto de "navio almirante da língua portuguesa no mundo".

Uma das frases mais esclarecedoras de Santos Silva nesta conferência, que teve lugar na quarta-feira, foi: "Quem não compreender o que está a acontecer em Angola não está a compreender nada", apontando o dedo à forma errada como a União Europeia está a encarar o seu relacionamento com o continente africano, sublinhando que "desvalorizar" essa relação "é um erro crasso".

E lembrou outra frase com claros links para a história do relacionamento entre Portugal e as suas antigas colónias, proferida pelo Presidente João Lourenço, em Lisboa, durante a sua recente visita de Estado, onde este, com um misto de ironia e incentivo, apelou aos empresários portugueses para irem "em força para Angola", sem esconder que tal expressão remetia para a frase que António Salazar, ditador português, utilizou em 1961, quando se dirigia ao país para anunciar o envio de militares para a guerra colonial: "Para Angola, rapidamente e em força!".

Ainda no seguimento da sua reflexão sobre a forma desajustada como a Europa tem olhado para África, Santos Silva alertou para os riscos de a Europa "se fechar sobre si própria" e que o continente africano tem "um papel absolutamente central" na política externa e europeia portuguesa.

Lembrou que a presidência portuguesa da União Europeia, agendada para 2021, ter+a coimo uma das prioridades "a relação Europa-África", adiantando que para a forma como Lisboa encara este assunto, o que Portugal vale no mundo, resulta em grande parte da "soma e pela relação privilegiada que tem com africanos e com europeus".

O governante português, citado pelo Jornal Económico, acrescentou que a parceria entre África e a Europa, não podendo esquecer "a dimensão de desenvolvimento e da cooperação", tem de ser alinhada com a natureza de "uma parceria entre iguais e não na lógica, hoje obsoleta, do existencialismo, da ajuda, do paternalismo e da condescendência".

No que diz respeito ao relacionamento entre Portugal e Angola deve priorizar, para além do sector energético, questões como as consequências do seu próprio crescimento.

"Estes países vão lidar com dores de crescimento, que podem ir desde a segurança e às exigências que o crescimento demográfico vai impor ao sistema de ensino e sistemas de saúde. É nessas áreas que nos devemos focar", afirmou.