Apesar de os candidatos sorteados, recentemente, para as 2.390 casas, ainda não estarem lá a viver, a Centralidade já regista uma grande quantidade de lixo, espalhado por vários quarteirões e na entrada principal. Há ainda duas unidades hospitalares, construídas de raiz, que se encontram encerradas e não existe posto policial nem bombas de combustível.

O Novo Jornal, que radiografou, esta quinta-feira, 12, este complexo habitacional também conhecido como Zango 8000, ouviu os moradores e encarregados de educação que se queixaram ainda da ausência de professores nas escolas aí sediadas e da anarquia por ausência de uma administração.

Segundo os habitantes, para além da falta de serviços sociais, muitos residentes já começaram a fazer alterações nos seus apartamentos e vivendas por ausência de fiscalização.

" Cada um faz da sua residência o que desejar", dizem os residentes.

Quanto aos problemas do saneamento básico, os moradores destacam a quantidade de lixo na Centralidade como um dos principais incómodos e também os focos de águas paradas em vários quarteirões, como constatou o Novo Jornal.

"Não temos praticamente nada aqui. Não há empresa para fazer a recolha, não temos nenhum posto de abastecimento de combustível, senhor jornalista estamos ao Deus-dará", lamentou o residente Mateus Luís.

Aurora Coxe, que vive naquela Centralidade, afirmou que há já assaltos em vários locais do Zango 5, por não se verificar a presença de patrulhamento policial relatando que muitas vezes tem havido muitos disparos nos convívios entre os jovens.

"Temos tido assaltos aqui, pese embora não ser em grande número, mas há. E tememos que isso possa crescer com a vinda de outros moradores", descreveu.

Entretanto, os moradores contam que, para se verem aliviados da lixeira, têm feito contribuições, a nível dos prédios, para pagarem a terceiros que fazem a recolha do lixo.

"Até agora não compreendemos como é que uma Centralidade como esta, que custou milhares de dólares ao Estado, não tem uma empresa para recolher resíduos sólidos nem postos de combustível. Para não falar de uma unidade dos bombeiros", narram os residentes que esperam ver resolvidos estes problemas.

Na urbanização Zango 800, que comporta 416 hectares, não há sequer um contentor onde depositar o lixo para as 7.964 unidades habitacionais, já ocupadas em cerca de 70 por cento, e as pessoas não sabem onde deitar os resíduos sólidos.

António Mateus Domingos, morador do quarteirão G, lamentou não terem sido prevenidos aspectos como esquadras, casa de velórios, bancos, supermercados e lojas de conveniência, o que obriga os moradores a obterem os serviços mínimos fora da centralidade.

Pedro Nelson, residente na Centralidade desde 2018, apela ao Governo para que seja instalado uma linha de transportes públicos que ligue o Zango 5 a outros pontos da cidade de Luanda.

Quando às escolas, na Centralidade do Zango 5 existem várias instituições de ensino, mas os encarregados de educação dizem que têm faltado muitos professores.

O Novo Jornal deslocou-se à escola do Ensino Primário nº 5148, uma das mais citadas pelos moradores, e verificou que, para além da falta de professores, a instituição não tem meios como computadores, impressoras, mesas, armários e outros equipamentos para funcionar.

Uma funcionária daquela escola, que preferiu não ser identificada, contou que a instituição tem falta de professores por ainda não se ter realizado um concurso público para o efeito.

" É a informação que temos. Que se está a esperar por um concurso público e temos só de esperar que resolvam. Mas a escola está a fazer os possíveis para cumprir com o pleno de aulas e não deixar que os meninos percam lições. Porque até nós estamos à espera que nos coloquem meios para trabalhar", explicou.

Face às reclamações, o Novo Jornal contactou o Ministério do Território e Habitação, mas uma responsável daquele órgão ministerial, que não quis ser identificada, disse que aquele Ministério vai prestar esclarecimentos sobre o assunto, em tempo oportuno.

Importa salientar que em Dezembro do ano passado, em declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA), a ministra Ministério do Território e Habitação, Ana Paula de Carvalho, disse que seriam desactivadas algumas moradias para serem transformadas em esquadras policiais, coisa que, segundo os moradores, não aconteceu até ao momento.

Vencedores no concurso público de Fevereiro começaram a receber as chaves das suas residências esta sexta-feira

Os mais de 2.000 candidatos seleccionados pelo Ministério do Território e Habitação através da Imogestin começam hoje, 13, a receber as chaves dos seus apartamentos e vivendas num processo que vai decorrer nos próximos três meses.

A informação foi avançada esta quinta-feira, 12, à Rádio Nacional de Angola, por Mateus Garcia, do gabinete de tecnologia de informação do Ministério do Território e Habitação, que disse que os candidatos devem ficar atentos aos e-mails e aos telemóveis para receberem as notificações sobre a data das entregas.

" Essa fase contemplará todos os candidatos que por via da plataforma electrónica viram os seus códigos sorteados. Pedimos a todos que durante o período de 90 dias estejam atentos às mensagens nos telefones e correio-electrónicos", salientou.

Mateus Garcia disse ainda que o processo está a ser marcado por um absentismo dos candidatos sorteados que não estão a responder às notificações.

"É com grande preocupação que temos vindo a notar algum absentismo por parte de vários candidatos sorteados, e apelamos a estes que verifiquem e reverifiquem os dispositivos móveis e os e-mails, pois que esse absentismo pode condicionar o período estabelecido para a entrega das habitações", explicou.

A Centralidade do Zango 5 está edificada no sudeste da cidade de Luanda, no município de Viana, contempla moradias isoladas e geminadas (com três quartos) e edifícios com dois e três pisos. Os primeiros moradores receberam as chaves em Outubro de 2018.