"Cruzamos o número crítico de 500 mil casos. A pandemia está a atingir a velocidade máxima e, por isso, gostaria de fazer um apelo ao continente: temos de ser corajosos, arrojados e deliberados na implementação de medidas se saúde publica de forma generalizada", disse John Nkengasong.
O director do África CDC, que falava hoje, a partir de Adis Abeba, no encontro semanal com jornalistas, apelou para o uso generalizado de máscaras.
"Temos de aumentar o uso de máscaras em todos os países. Máscara, máscara, máscara", disse numa analogia com a recomendação da Organização Mundial de Saúde de "testar, testar, testar".
O responsável africano sublinhou igualmente a importância de os países continuarem a alargar a sua capacidade de testagem da população e a necessidade de envolver as populações na luta contra o coronavírus.
Sobre a progressão da doença no continente africano, John Nkengasong adiantou que, segundo dados de hoje de manhã, o continente registava 522.104 casos acumulados de infecção pelo novo coronavírus, dos quais resultaram 12.206 mortes, o que representa uma taxa de letalidade de 2,3%.
"Desde a semana passada, houve um aumento de 24% de novos casos, o que significa cerca de 100 mil novos casos e uma média de 14 mil casos por dia comparando com a média diária de 11 mil casos na semana passada", adiantou.
África do Sul (42%), Egipto (15%), Nigéria (6%), Gana (4%) e Argélia (3%) são responsáveis por 71% de todos os casos registados em África.
De acordo com o África CDC, foram feitos no continente 5,7 milhões de testes, 8,6% dos quais deram positivo.
Cerca de 80% dos testes foram realizados em apenas 11 países: África do Sul, Marrocos, Egipto, Gana, Etiópia, Uganda, Quénia, Maurícias, Ruanda, Nigéria e Senegal.
O director do África CDC adiantou que, através da plataforma de compras 'online' da União Africana, foram comprados 1,4 milhões de testes, a que se deverão juntar 1,3 milhões doados pelo Governo alemão.
"Serão 2,7 milhões de testes e com a sua distribuição chegaremos muito perto da meta de alargar a testagem para 10 milhões que estabelecemos em Abril", disse.
África lança consórcio para supervisionar ensaios sobre vacina
O director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) anunciou hoje o lançamento de um consórcio para supervisionar os ensaios clínicos da vacina para a covid-19 a decorrer em África.
"A União Africana estabeleceu, através do África CDC, um consórcio para supervisionar os ensaios clínicos sobre a vacina para a covid-19, o CONCVACT", disse John Nkengasong, que falava hoje a partir de Adis Abeba, no encontro semanal com jornalistas para abordar a progressão da doença no continente africano.
De acordo com este responsável, o consórcio pretende "juntar todo o conhecimento existente no continente sobre a vacina para actuar de maneira coordenada e assegurar que os ensaios clínicos são conduzidos de forma apropriada".
Por outro lado, acrescentou John Nkengasong, o consórcio irá permitir ao África CDC relacionar-se com os fabricantes de vacinas em todo o mundo para "identificar os principais candidatos a fazerem ensaios clínicos no continente" e participar "nas discussões" lideradas pela Aliança Global para as Vacinas (GAVI) para "negociar a posição africana no desenvolvimento e acesso à vacina".
"Queremos assegurar à população que os ensaios clínicos da vacina são feitos no continente da forma mais apropriada e segura", disse.
De momento, apenas a África do Sul e o Egipto estão a participar em ensaios clínicos para a vacina de covid-19 e, para o director do África CDC, um continente de 1,3 mil milhões de pessoas "merece que mais de dois países participem".
A criação do consórcio é um resultado da conferência virtual sobre o papel de liderança de África no desenvolvimento e acesso à vacina para a covid-19, realizada em Junho.
A conferência foi organizada pelo África CDC e presidida pelo Presidente em exercício da União Africana e chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, que, na altura, sublinhou a necessidade de "apoiar a contribuição de cientistas e profissionais de saúde africanos".
"É extremamente importante que os académicos, investigadores e o sector privado trabalhem em conjunto e utilizem todas as plataformas disponíveis para o desenvolvimento da vacina covid-19", disse, por seu lado, o presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, na mesma conferência.
O CONCVACT visa assegurar para o continente a participação em mais de 10 ensaios clínicos de vacinas em fase avançada, reunindo fabricantes e financiadores globais de vacinas, bem como organizações africanas que facilitam os ensaios clínicos.
O objectivo é assegurar que sejam gerados dados suficientes sobre a segurança e eficácia das vacinas candidatas mais promissoras para a população africana, para que possam ser lançadas com confiança em África, uma vez aprovadas.
O consórcio será copresidido pelo director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong, pelo diretor do Comité Consultivo Ministerial para a covid-19 da África do Sul e pelo director-geral do Centro de Desenvolvimento de Vacinas do Mali
Outros membros do consórcio incluirão representantes de organizações-chave de apoio a ensaios clínicos no continente, incluindo a Organização Mundial de Saúde, The Africa Academy of Sciences Clinical Trials Community, o Institute Pasteur, o African Vaccine Regulatory Forum, a African Medicines Agency, entre outros.
"A África deve desempenhar um papel activo na garantia de uma vacina eficaz contra a covid-19. Trata-se do nosso futuro e do nosso desenvolvimento", sublinhou John Nkengasong.