Depois de a advogada Carolina Joaquim de Sousa da Silva, de 26 anos, ter sido encontrada morta na fossa da sua própria residência, assassinada pelo marido que se desculpou com os ciúmes sentidos por causa de uma suposta traição da mulher, têm sido muitas as mulheres a recorrer às redes sociais, como o Facebook, para deixar mensagens de repúdio a este e a outros casos de violência doméstica, começando ou terminando as mensagens com a frase "Parem de nos matar".

O protesto chegou também à Assembleia Nacional, onde as parlamentares, todas vestidas de branco, se levantaram, independentemente do partido que representam, para dizer a uma só voz que basta de violência contra as mulheres.

A vice-presidente do MPLA já tinha defendido, no Waku-Kungo, Kwanza-Sul, a revisão da actual Lei contra a violência doméstica, para incluir sanções mais duras contra os autores destes crimes, mas o Grupo de Mulheres Parlamentares quis levar ao Parlamento a "solidariedade para com as mulheres que sofrem a violência dos companheiros e maridos e marcar uma posição", explicaram Clarisse Mukimba e Albertina Ngolo Felisberto, deputadas da UNITA.

Segundo as parlamentares, "este combate não vai parar por aqui" e "brevemente" serão anunciadas as várias acções de sensibilização que "estão a ser organizadas para chamar a atenção para este drama nacional".

Na Assembleia Nacional, as mulheres parlamentares apelaram "aos órgãos de justiça para que tomem medidas severas contra todo o tipo de violência contra as mulheres, começando pelo agravamento das penas", bem como à criação de mais casas de acolhimento de vítimas de violência doméstica, "tendo em conta que no País existem apenas seis e só três funcionam efectivamente".

Até porque, no País, poucos são os que levantam a voz contra a violência sobre as mulheres. Como lembra Leopoldina Fekayamãle, dirigente do movimento Ondjango Feminista, num texto publicado na página do colectivo, às notícias que davam conta da morte da jovem Carolina da Silva seguiram-se múltiplos comentários nas redes sociais a justificar a crueldade do marido da advogada, reveladoras de "um nível de misoginia incrível, de perder as forças, de nos perguntarmos em que país estamos..."

Segundo a activista, a normalização da violência física e psicológica contra as mulheres "tem níveis assustadores e angustiantes".

"A forma livre, tranquila e às vezes com alguma satisfação com que muitos homens têm dito que ela "mereceu", que "mulher que não se põe no seu lugar tem mesmo de acabar mal", que "mulher merece levar correctivos mesmo para aprender a ficar no seu lugar", ou ainda a forma como dizem "agora estamos a matar se não se comportarem" é assustador", escreve ainda Leopoldina Fekayamãle num texto a que deu o título "Parem de nos matar", publicado na página do movimento "Ondjango Feminista".

Segundo o colectivo feminista, no ano passado, houve 62 mil casos de violência contra as mulheres, o que configura "a maior violação de direitos humanos em Angola".

"Não podemos continuar a invisibilizar a violência contra as mulheres com discursos de que 'toda a violência importa' ou 'homens também são violentados' ou ainda 'mulheres estão a se fazer de vítimas'. Mulheres têm sofrido por longos períodos de tempo por conta dessa invisibilização e justificação de que seus corpos podem ser feridos, maltratados, violentados e mortos", regista.

"Nós, mulheres singulares e também enquanto colectivo, vamos continuar a gritar "parem de nos matar" e de "ferir a nossa existência". Queremos leis que nos protejam e sejam aplicáveis de facto, queremos políticas públicas que tragam aos debates e às instituições o respeito da nossa humanidade", promete.

"Queremos uma sociedade onde não tenhamos medo de sair à rua! Vamos continuar a reivindicar uma sociedade onde tenhamos as nossas liberdades de ser, de sentir, de andar e pensar como quisermos. Vamos continuar a reivindicar uma sociedade onde possamos viver em segurança", remata Leopoldina Fekayamãle, sobre um tema que promete aquecer os ânimos no País.