O Novo Jornal visitou a comuna de Cabo Lado esta segunda-feira,19, que fica 120 km a sul da cidade de Luanda. Lá constatou que o fornecimento de água é feito por um único camião-cisterna, enquanto a energia eléctrica é fornecida por um grupo gerador, que trabalha das 8:00 às 23:00 e abastece apenas a sede comunal.

Com 2.500 quilómetros quadrados, a comuna de Cabo Ledo, uma região tradicionalmente piscatória e turística devido às suas praias, tem uma população estimada em 12. 806 habitantes, maioritariamente comerciantes, e conta com oito povoações.

Dias Júnior e Fernando Rufino moram na comuna de Cabo Ledo há mais de 20 anos e contaram ao Novo Jornal que o bairro nunca beneficiou de água potável ou de energia eléctrica da rede pública, mas que estavam esperançados que esses problemas deixassem de existir com a implementação do PIIM.

"Ficámos todos surpresos e nem acreditámos que isso fosse verdade. Até ao momento nenhum popular aqui compreende isso. É uma falta de respeito o que o Executivo está a fazer com os munícipes da Quiçama, em particulares nós, os de Cabo Ledo, que estamos muito próximos da Barra do Kwanza", explicaram.

José João é empreendedor na região há 10 anos, contou que por causa da falta de energia e de água da rede pública muitos empresários não investem em Cabo Ledo.

"Há mais perdas do que lucros, por isso Cabo Ledo está assim. Com poucas coisas para oferecer aos visitantes. Como é que os empresários vão investir numa zona que nem água e energia tem? É bonito, é, mas isso só não basta. Cabo Ledo é o melhor ponto turístico de Luanda e o Executivo deve pensar bem ao fazer as coisas", disse o empresário, frustrado com a não inserção, no PIIM, de projectos que levem água e luz a Cabo Ledo.

Moraldo Jorge Francisco Tomé, residente no bairro do Sangano, contou que para além dos problemas das ravinas, a grande inquietação é mesmo a ausência da energia eléctrica e da água potável no seio das famílias de Cabo Ledo.

"A Barra do Kwanza fica a 28 quilómetros, e lá tem estação de energia que abastece de Luanda, para não falar do Rio kwanza. O que falta é mesmo vontade política dos nossos dirigentes, senão, não entendemos. Por isso é que os empresários não querem vir investir em Cabo Ledo, que é um grande ponto turístico de Luanda, e como consequência há um grande índice de jovens desempregados aqui", lamentou o homem de 33 anos.

O Novo Jornal soube que, nesta altura, o único camião-cisterna da administração comunal que abastece as populações das diferentes zonas de Cabo Ledo está avariado, o que torna difícil a vida das famílias.

"Quando o camião-cisterna não distribui água à comunidade é um caso sério. A solução é comprar água aos particulares, o que nos deixa mais pobres ainda. Há até famílias que consomem água salobra", descreveram os munícipes.

"Água potável é como ouro aqui em Cabo Ledo"

Aqui, diz o munícipe Adão Mateus, pescador e residente na zona da Praia Sede, "a água potável é como ouro, ninguém a dá a desconhecidos para beber, por isso, é que um litro de água mineral é vendido nas cantinas a quase mil kwanzas.

"Como pescador vejo muito peixe a estragar-se por falta de energia. A solução é escalar e secar para não estragar. Aqui todos vivemos de geradores e a água é comprada nos tanques, cada banheira custa 100 a 150 kz", contou.

Como no aproveitar é que está o ganho, Célia Miguel, uma pequena empresária que o Novo Jornal encontrou na Praia Sede, tem três arcas frigoríficas que aluga para quem quiser conservar os seus produtos.

A mulher, de 38 anos, contou que por Cabo Ledo pertencer a Luanda, há dificuldades que já não podiam existir no seio das populações, como, por exemplo a carência de água potável e de energia eléctrica.

A jovem empresária lamentou que, até agora, apenas a comuna sede beneficie de energia do grupo gerador.

"Seria melhor se estendessem essa pequena luz para outros bairros para atrair investidores, senão, nunca vamos ter empresários a vir investir na nossa comuna, porque vejo que ainda estão a tratar-nos como se o município da Quiçama não fizesse parte da província de Luanda", afirmou.

Já Ana Maria Cordeiro Alves, administradora comunal de Cabo Ledo, disse ao Novo Jornal que reconhece os problemas que Cabo Ledo enfrenta e salienta que a nível da administração ainda não há um projecto traçado para trazer água potável e luz eléctrica da rede pública às populações.

"Sabemos que a nível do Executivo se fala da implementação de painéis solares, a longo prazo, infelizmente não temos ainda nada plausível", referiu, acrescentando que "o projecto está paralisado por falta de financiamento".

Quanto ao abastecimento de água potável na região, a administradora comunal de Cabo Ledo reconheceu ser uma dor de cabeça para as populações.

Ana Maria Cordeiro Alves afirmou ter apenas um único camião-cisterna que está ao serviço de todo o território de Cabo Ledo, mas reconhece que não é o suficiente.

"É o possível que temos feito para que tenhamos um pouco de água. Porque para colmatar esse défice devíamos ter no mínimo quatro camiões-cisterna tendo em conta as zonas piscatórias que temos e os bairros do interior.

Questionada porque é que o problema da falta de água e energia, que muito preocupa a população, não é prioridade nos projectos do PIIM, a responsável disse não entender também.

"Para o PIIM temos apenas projectos de escolas e a construção da administração comunal. Infelizmente nem água e energia eléctrica constam dos projectos do PIIM", lamentou.