Na bagagem, Abrahão Gourgel leva as novidades do subsolo mostradas pelo Plano Nacional Geológico (Planageo) e a vontade de Luanda diversificar a sua economia para áreas onde este país dá cartas no mundo: agricultura, transportes, indústria...
Mas o responsável pela pasta da Economia angolana sabe que o segundo país mais populoso do planeta, com mais de 1,2 mil milhões de habitantes, é o maior importador de diamantes em bruto do mundo, é pesadamente dependente de petróleo importado e destaca-se ainda pelas enormes importações de ouro, tendo chegado às 524 toneladas em 2016.
Para além destes dados, a Índia está a desenvolver um esforço gigantesco para aumentar a sua presença empresarial em África, numa competição que começa a aproximar-se paulatinamente dos volumosos investimentos chineses, como o demonstram os dados referentes ao investimento externo deste país que, em 2013 chegou aos 14 mil milhões de dólares.
E Nova Deli não esconde os seus objectivos de ter no mapa continental africano uma das mais destacadas lanças da sua ofensiva global no que ao investimento externo diz respeito, sendo Angola um dos países claramente no "radar" do Governo do primeiro-ministro Modi, como, alias, os sucessivos embaixadores indianos em Luanda o têm sublinhado.
E é com a intenção de criar esse espaço, sabendo-se que Índia e China já dão mostras de estar a disputar território de investimento externo em África, para já, no caso indiano, com destaque para as Maurícias, Nigéria e África do Sul, que o ministro da Economia está na Índia.
Este é mais um "road show" do Governo de Luanda para atrair investimento externo, ao mesmo tempo que potencia a criação de iniciativas empresariais privadas conjuntas, ganhando com isso o lastro que o empresariado indiano ostenta e que o angolano ainda está a ganhar.
A comitiva de Gourgel chamou a esta deslocação "Captação de Investimento Directo Externo ao Empresariado da Índia" e tem como alvos principais as minas, a agricultura, a silvicultura, a energia, a indústria transformadora, os transportes e a logística.
No documento em que o Ministério da Economia anuncia esta visita à Índia, surge destacada a ideia da promoção das potencialidades económicas que Angola tem para oferecer aos investidores indianos.
Na agenda de Gourgel estão encontros os ministros de Estado da Agricultura e Bem Estar dos Agricultores, S.S. Aluwalia, do Carvão, Minas e Energias Renováveis, Piyush Goyal, do Comércio, Nirmala Sitharaman, com o dos Assuntos Externos, e com alguns grupos empresariais indianos.
O trunfo Planageo para libertar o país da dependência do crude
Um dos trunfos que Abrahão Gourgel leva na manga para este road show pelo país dos Marajás são os dados do Planageo, com destaque para as novas jazidas de ouro e diamantes, cujo interesse indiano é evidente e não pode ser escondido, bem como a cintura de cobre que se prolonga para território angolano a partir da Zâmbia e da RD Congo.
O Plano Nacional de Geologia de Angola revelou que cerca de um terço da área internacionalmente conhecida como Copperbelt, uma vasta área rica em cobre e cobalto, até aqui tida como abrangendo apenas a RD Congo e a Zâmbia, tem cerca de um terço da sua extensão em território nacional.
De acordo com informações transmitidas pelo ministro da Geologia e Minas, Francisco Queiroz, na África do Sul, no âmbito da Conferência Internacional de Minas (Indaba) que teve lugar na Cidade do Cabo no início deste ano, e onde Angola apresentou a potenciais investidores o seu Planageo, o país tem cerca de um terço da área Copperbelt (cintura de cobre), cerca de 100 mil quilómetros quadrados, nas suas fronteiras.
Esta informação, até aqui desconhecida, cuja identificação resultou dos trabalhos inseridos no Plano Nacional de Geologia, que identifica as áreas sensíveis no sector da mineração global do país, foi revelada no Angola Forum Business, que decorreu paralelamente ao programa do Indaba, que é a maior conferência mundial de mineração, na Cidade do Cabo, África do Sul, que tem por objectivo maior o desenvolvimento do sector mineiro no continente.
Mas há mais novidades para além da copperbelt. Um dos exemplos foi a áreas de Cassinga, (Jamba, Huíla), cuja extensão total abrange ainda a província do Kuando Kubango, considerada muito rica em ouro e ferro, ou as ocorrências geológicas (kimberlitos), que se prolongam das Lundas, Norte e Sul, para Malanje, Bié e Huambo, ou ainda o Cazombo, no Moxico.