A decisão, olhando para os gráficos nesta terça-feira, 19, parece que já foi tomada e os "pintores" de serviço já começaram a colorir de vermelho os gráficos dos mercados internacionais, anunciando uma queda substantiva do valor da matéria-prima.

E isso, porque se, como tudo indica, nem que seja parcialmente, a mediação norte-americana levar ao fim da guerra na Ucrânia ou, pelo menos, à diluição da intensidade do confronto entre russos e ucranianos, haverá menor pressão no lado da oferta e isso leva sempre a uma desvalorização.

O principal motivo é claramente a possibilidade real de que o crude russo volte a fluir pelos mercados sem o garrote das sanções ocidentais aplicadas a Moscovo assim que em Fevereiro de 2022, Moscovo invadiu a Ucrânia, o que se não anular o "gap" entre oferta e procura, pelo menos reduz a diferença entre o consumo e a energia físsil disponível.

Mas há outra razão a montante para esta quebra no valor da matéria-prima, que não está apenas a agitar os mercados, está a criar dores de cabeça excruciantes às economias petrodependentes, como é, por exemplo, o caso da angolana.

É que a OPEP+, a organização que junta desde 2017 os 12 Países Exportadores (OPEP) e Rússia & Co., estão num frenesim surpreendente para repor os milhões de barris tirados à produção diária global, especialmente, desde a pandemia da Covid, para manter os mercados equilibrados.

Equilíbrio esse que esta, graças a essa retoma da produção, que foi de cerca de 100 mil barris por dia em Maio, e depois, até Agosto, de 411 mil, com Setembro já pronto para receber mais 511 mil bpd, o que está, como alerta a AIE a gerar um "surplus" evidente com repercussões substantivas nos mercados.

Embora isso seja um alívio para os importadores, onde, mesmo sendo um grande produtor, o maior do mundo, é um gigantesco consumidor, os EUA, cujas economias rejubilam com a decida do preço da matéria-prima, entre os exportadores, o clima é muito menos luminoso, é de pânico mesmo em algumas latitudes.

Em Angola, o Executivo raramente se refere aos efeitos nocivos destas descidas, mas eeles são evidentes, não fosse o petróleo, ainda, o grande combustível do crescimento económico nacional.

E é por isso que em Angola se olha de lado para os gráficos onde o Brent, a referência principal para as exportações angolanas, está, por esta hora, 14:30, hora de Luanda, a valer 65,75 USD, menos 1,34 % que no fecho da sessão anterior, um valor com tendência para cair ainda mais e já longe dos 70 USD que o Governo de Luanda usou como mediano para o seu OGE 2025.

Mercados agitam-se em baixa e a economia angolana treme

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a pewrspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.