... em terceiro porque as negociações entre os EUA e o Irão devido ao programa nuclear de Teerão entraram novamente num terreno movediço, impedindo que os ganhos da perspectiva de entendimento se revelem...

... em quarto porque há algumas perspectivas positivas sobre um entendimento entre russos e ucranianos sob mediação norte-americana e em quinto porque os dados sobre a produção industrial chinesa estão longe de ser animadores.

Em síntese, é importante lembrar que o Irão é um gigante da OPEP, que pode, em condições normais, sem sanções, colocar mais algumas centenas de milhares de barris por dia no mercado, a Rússia é o 2º maior exportador do mundo se não estiver amarrado pelas sanções ocidentais devido à guerra na Ucrânia.

A que acresce o facto de a China ser o maior importador do mundo e os EUA o maior consumidor global de crude.

A semana arrancou sob o signo da decisão da Moody's sobre a economia norte-americana e o efeito foi imediato, com os investidores a reagirem à passagem do rating dos EUA de AAA para Aa1 devido às preocupações com a sustentabilidade da dívida norte-americana e o pagamento de juros.

E com isso, uma retirada com alguma precipitação, devido à medida surpreendente da agência de rating norte-americana, dos investidores do seu capital do mercado, incluindo no sector petrolífero.

Este movimento apanhou na curva fechada dos mercados globais o pânico ainda presente da guerra das tarifas e da desconfiança que os 90 dias de stand by gerados pelas negociações entre EUA e China geraram por não serem garantia de que tudo volta à estaca zero findo este prazo.

Mas é igualmente relevante, na limitação do potencial de subida do valor do barril que o Presidente norte-americano, no contexto das negociações para travar o conflito na Ucrânia, se mostrou agora menos receptivo a alinhar com as sanções em preparação pela União Europeia em colaboração com o Reino Unido.

E é com este cenário em riste que o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava esta manhã, perto das 10:30, hora de Luanda, a perder cerca de 0,40%, para os 65,32 USD.

Em Angola, este cenário é pouco simpático devido à persistente imobilidade do valor do barril, que teimosamente se mantém distante dos 70 USD, o valor de referência usado para elaborar o OGE 2025.

Mas há agora outra questão que se pode revelar importante, porque, além do valor médio anual, a produção do país é igualmente fundamental e, como o Novo Jornal noticia esta terça-feira, 20, os problemas resultantes de uma explosão numa plataforma no offshore de Cabinda podem interferir com as contas nacionais.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional, marcado pela instabilidade e incerteza, tende a manter os preços ainda longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.