A OPEP+, organização que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) mais a Rússia e um conjunto saltitante de produtores independentes, é, desde Maio deste ano, o maior inimigo das economias que precisam de ver o barril de petróleo subir, subir, subir...
Depois de começar com um aumento da produção, em contra-ciclo, em Maio, com 111 mil bpd, para ajudar o Presidente dos EUA, a reduzir o stresse da inflação, o que aconteceu, sabe-se hoje, porque Donald Trump pediu ao russo Vladimir Putin e ao saudita Bin Salman, chegou aos 556 mil este mês, mas limitou essa recuperação a 137 mil bpd para Novembro.
É que ninguém estava a perceber como é que os países que integram o cartel, quase todos entalados em crises, embora com severidade gradualmente distintas, mantinham, contra-intuitivamente, aumentos mensais da produção que estavam a empurrar os preços para baixo, o que agora está a mudar, com uma clara correcção do tiro.
Com este anúncio surpresa, feito no Domingo, 05, a OPEP+ já não deve, como, por exemplo, a Goldman Sachs e a Agência Internacional de Energia (AIE) admitiam, chegar ao fim do ano próximo de um milhão de barris por dia recuperados dos quase 6 mbpd eliminados desde 2020, aquando da explosão da Covid-19.
E isso está a fazer os preços nos mercados internacionais esverdear, para, perto das 11:00 desta segunda-feira, 06, hora de Luanda, 65,6 USD, mais 1,66% que no fecho anterior, embora muito longe dos 70 USD que foi o valor médio usado para o OGE 2025 de Angola, e que já não é visto desde 01 de Agosto último.
Esta melhoria, na perspectiva dos exportadores, como Angola, embora Luanda tenha abandonado a OPEP em finais de 2023, é resultado directo desta mudança de direcção da OPEP+, embora não faltem crises globais, como a guerra na Ucrânia, ou no Médio Oriente, onde Donald Trump procura um acordo de paz "instantâneo" para ver se ainda chega ao Nobel da Paz nesta sexta-feira, para, de um momento para o outro, avermelhar os mercados de novo.
Isso e os dados que começam a ser compilados nas grandes economias, como a chinesa ou a norte-americana, e a europeia, que apontam para uma redução no consumo, ainda ligeira, mas que pode vir a crescer nas próximas semanas, como alguns analistas admitem, sendo que isso se deve, nalguns casos, a condições anuais de calendário dos trabalhos de manutenção de algumas das grandes refinarias asiáticas.
Apesar da luz ao fundo do túnel...
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.