O barril de Brent, que serve de referência maior às ramas exportadas por Angola, caiu cerca de 2% esta quinta-feira, 22, devido ao anúncio da continuação, por parte da OPEP+, apesar dos efeitos desastrosos para os seus membros, da reposição acelerada de produção.
Com efeito, a retirada artificial de cerca de 6 mbpd nos últimos anos da produção do "cartel", que junta nos interesses sauditas e russos, entre outras quase duas dezenas de exportadores de crude, permitiu manter os mercados equilibrados em alta.
Porém, essa maquinação foi sempre geradora de insatisfação em Washington, que precisa de petróleo barato para alimentar a sua economia, industrial e social, equilibrada, e com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, tanto Riade como Moscovo parecem estar a ceder.
Com efeito, a OPEP+ iniciou em Abril um programa de reposição da produção que começou com 131 mil bpd, passou para 411 mil bpd em Maio e agora é já sabido que essa quantidade vai ser mantida como crescimento mensal pelo menos até Julho.
Como tal, em apenas em quatro meses, o mercado tem mais cerca de 1,3 mbpd disponível, o que tem, forçosamente, de ter um efeito devastador nos preços do barril, satisfazendo os grandes consumidores, EUA, Europa, Índia e China, mas afogando em problemas as economias petrodependentes, como é o caso da angolana.
Alias, como o Novo Jornal tem vindo a noticiar, com base em observações de economistas com saber no sector, se este movimento avermelhado nos mercados petrolíferos se mantiver, forçosamente o Governo angolano terá de abordar a questão de uma revisão do OGE 2025.
E a razão é sobejamente conhecida, e passa pelo facto de o OGE 2025 ter sido elaborado com um valor de referência médio anual de 70 USD e esse valor está já desactualizado há largas semanas, provocando um imbróglio sério à equipa económica de João Lourenço, tendo já a ministra das Finanças admitido que esse momento pode chegar se o barril não recuperar.
Além da questão da OPEP+, e da crise económica que varre o eixo Pequim-Washington, as duas maiores economias e maiores consumidores de crude do mundo, esta quarta-feira, 21, as autoridades norte-americanas anunciaram uma subida substantiva das reservas de petróleo no país em 1,3 milhões de barris, para 443, 2 milhões de barris na última semana.
Apesar desta notícia, como refere a Reuters, afectar mais o WTI de Nova Iorque, o Brent em Londres, que é o mais relevante para Luanda, também sofre um impacto claro, como o mostra a queda esta quinta-feira, 22, de mais de 1,5% perto das 14:20, hora de Luanda, para os 63,85 USD.
Estas são más notícias para Angola, devido à sua conhecida dependência do sector petrolífero, que ainda está a averiguar o impacto na produção do país que pode ter a explosão na plataforma do Bloco 14 da Cabinda Gulf Oil Company (Chevron), na terça-feira passada, que ficou interrompida até ver.
Mas há agora outra questão que se pode revelar importante, porque, além do valor médio anual, a produção do país é igualmente fundamental e, como o Novo Jornal noticia esta terça-feira, 20, os problemas resultantes de uma explosão numa plataforma no offshore de Cabinda podem interferir com as contas nacionais.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, marcado pela instabilidade e incerteza, tende a manter os preços cada vez mais longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.