Os 411 mil bpd que vão ser acrescidos à produção do cartel em Julho são o mesmo valor feito neste início de Junho, e isso deixou os mercados satisfeitos e o barril de Brent, que serve de referência principal para as exportações nacionais, subiu até 3,42%, para os 64,96 USD, perto das 11:30, hora de Luanda.

A OPEP+ está desde Abril, inicialmente com 131 mil bpd, e depois em Maio com 411 mil, a repor parcialmente a produção que desde 2020, com o surgimento da pandemia da Covid 19, foi retirada de circulação para evitar o colapso dos mercados.

Neste plano de aumento mensal da produção, que em Julho deverá voltar a ser de 411 mil barris diariamente, e que os mercados estranhamente reagiram com vigor, mesmo que esses valores já fossem conhecidos, até ao final do ano não deverá ser interrompido.

A Reuters escreveu na semana passada que até final de 2025 cerca de metade da produção enxugada desde 2020 pela OPEP+, que junta os 12 membros do cartel e a Rússia com mais um grupo de desalinhados, deverá estar reposta, ou seja 3 mbpd dos 6 mbpd somados no conjunto.

Uma das razões para a OPEP+ estar a acrescentar produção quando isso é a razão para que os preços estejam a descer com regularidade nas últimas semanas, é que a grande ameaça do cartel + Rússia & Co. resume-se a se tratar de uma resposta ao "fracking" norte-americano, sector que carece de valores altos para ser rentável e ameaça a estratégia da OPEP+.

Com mais produção no mercado, a OPEP+ consegue assim manter os produtores do fracking norte-americano sob pressão, impedindo uma valorização que leve ao aumento da produção neste negócio, mas, ao mesmo tempo, conseguem impedir que o barril desça para baixo da fasquia dos 60 USD, o que, em grande medida, serve minimamente os interesses russo e saudita.

Além do fracking norte-americano, com estas subidas mensais na produção, Riade e Moscovo exercem pressão sobre os seus "colegas" na Organização que estão a exceder as quotas que lhe foram atribuídas, nomeadamente o Cazaquistão e o Iraque.

Estes dois membros do cartel estão pressionados devido à forte presença de companhias norte-americanas, como a Chevron e a ExxonMobil, que aumentam largamente a sua produção à revelia dos respectivos governos correspondendo a peidos nesse sentido de Washington.

Isto, porque a Administração Trump está numa correria desenfreada para manter os preços do crude baixos de modo a conseguir, internamente, manter a inflação controlada, e externamente pressionar a Rússia que tem na exportação de crude a principal fonte de financiamento da sua guerra na Ucrânia.

Como tem sucedido historicamente, estes ciclos de acção de controlo sobre os mercados, lascando a produção para aumentar preços ou acrescentando barris à oferta para impedir o ressurgimento do fracking (petróleo de xisto), tendem a extinguir-se quando o equilíbrio é conseguido.

Para já, esse equilíbrio começa a ser consolidado em torno dos 64/65 USD por barril, como o atesta o gráfico do Brent correspondente às últimas semanas, o que pode ser um valor razoável para Angola, embora exigindo, mais cedo que tarde, uma ligeira correcção ao OGE 2025.

Isto, porque o OGE2025 foi elaborado com o preço médio do barril nos 70 USD e este valor já está abaixo dessa fasquia desde o início de Abril, há três meses, o que começa a ser tempo suficiente, como admiram já vários economistas, para que o Executivo mexa no OGE.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional, marcado pela instabilidade e incerteza, tende a manter os preços ainda longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.