É no velhinho negócio do crude que a queda do SVB mais se está a fazer sentir, com uma acentuada queda desde segunda-feira até hoje, de mais de seis dólares por barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola.

Perto das 11:20 desta quarta-feira, 15, hora de Luanda, o barril de Brent estava a ser vendido em Londres a 76,08 USD, menos 1,65 % que no fecho da última sessão (com clara tendência de descida), o que representa uma queda superior a seis USD desde segunda-feira, a primeira sessão desde o colapso do SVB e dos pequenos bancos criptodependentes Silvergate e Signature (ver links em baixo nesta página).

O foco principal deste cenário é a simbólica queda do barril de Brent para muito abaixo da fasquia simbólica dos 80 USD, onde se foi mantendo nos últimos meses, consistindo isso numa bonança surpreendente para as economias mais dependentes da matéria-prima, como a angolana, apesar de os EUA estarem a injectar milhões de barris nos mercados das suas reservas estratégicas, haver uma forte pressão ocidental para baixar o preço como forma de combater a historicamente alta inflação e, não menos importante, pela urgência climática que obriga a uma acelerada transição energética em direcção ao verde, substituindo os combustíveis fosseis pelas energias limpas.

Estes números compreendem ainda uma queda recorde de mais de três meses, só encontrada no mapa no início de Dezembro do ano passado por breves momentos, sendo outro momento semelhante só possível de encontrar se se recuar ao final de 2021.

Como forma de controlar esta incerteza nos mercados, a OPEP+, o grupo de agrega desde 2017, com o objectivo de manter os mercados equilibrados, os 13 países da OPEP e mais um grupo de produtores independentes encimados pela Rússia, já veio dizer que vai manter, ao longo de 2023, inalterados, desde Outubro de 2022, os seus níveis de produção, que já consubstanciam uma redução de 2 milhões de barris por dia mbpd).

O ministro da Energia saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, já veio dizer publicamente que "aqueles que esperam (um recado irónico para o Presidente dos EUA) que a OPEP+ aumente a sua produção, vão ter de esperar para saber se tal poderá suceder pelo dia 29 de Dezembro de 2023", aproveitando ainda para sublinhar que isso demonstra o "compromisso inabalável" do cartel nesta política de gestão da produção que representa perto de 50% de todo o crude extraído, cerca de 50 mbpd.

O responsável pelo sector petrolífero do maior exportador do mundo e potencialmente maior produtor do planeta, a Arábia Saudita, deixou ainda um recado mais abrasivo aos EUA, país que mais pugna por um aumento da produção no seio da OPEP+, que vai no sentido de Riade parar a produção e as exportações se os ocidentais impuseram, como fizeram com a Rússia, nos pacotes de sanções após a invasão da Ucrânia, um tecto máximo por barril ao cartel.

"Se for imposto qualquer limite aos preços do petróleo saudita, não venderemos um único barril aos países que seguirem essa indicação, reduziremos a produção e estou quase certo que outros países vão fazer o mesmo", avisou bin Salman.

No essencial, estes dados oriundos dos mercados após o colapso do SVB, demonstram que o medo do contágio não está totalmente afastado e alguns analistas vieram mesmo lembrar que noutras ocasiões, as garantias dadas por responsáveis do Governo ou dos reguladores foram terraplanadas pela realidade imediata, temendo-se que isso possa agora voltar a suceder.

E um dos indícios de que tal possa agora repetir-se é que os investidores mais importantes, especialmente os fundos de risco, estão a sair dos mercados bolsistas e petrolíferos para se refugiarem em activos mais seguros.

Mas, até ver, para Angola, com o barril a passar em baixo a fasquia dos 80 USD, este é um momento preocupante porque, além da diminuição continuada da produção nacional, soma-se agora uma perda acentuada de valor do barril.

E, como se sabe, Angola ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.