A decisão das IDF darem este passo numa escalada do terror a que está sujeita Gaza e os seus 2,3 milhões de habitantes seguiu-se, segundo o jornal israelita Haaretz, à ameaça do extremista ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, deixar o Executivo e fazer cair o Governo de Benjamin Netanyhau.
Isto, porque Smotrich, que é ainda líder do Partido Sionista, ultraortodoxo religioso e defensor da destruição total de Gaza, expulsando a sua população paa os países árabes vizinhos, se sair do Governo de Telavive, o primeiro-ministro é obrigado a desfazer o seu Governo.
O que, para Benjamim Netanyhau, é o mesmo que sair do seu gabinete de trabalho para as mãos da justiça israelita, onde está a decorrer um julgamento no qual é acusado de crimes graves de corrupção e branqueamento de capitais.
Além do processo judicial em curso, que tem conseguido atrasar devido às suas guerras em várias frentes, a última das quais contra o Irão, Netanyhau tem ainda de lidar com as suspeitas de conluio interno para as secretas israelitas (Mossad, Shin Bet e AMAN) bem como as IDF fecharem os olhos à preparação do assalto do Hamas ao sul do país a 07 de Outubro de 2023.
E é neste contexto, onde o país acaba de assinar um cessar-fogo com o Irão, que deve manter em suspensão por largas semanas, ou mesmo meses, o conflito israelo-iraniano, que Telavive volta a bloquear o acesso da ajuda humanitária à massacrada população de Gaza.
Recorde-se que Israel está acusado nas instâncias internacionais de justiça de genocídio com algumas organizações a falarem agora em mais de 400 mil mortos entre a população do território, que não chega aos 2,4 milhões de habitantes, sendo Netanyhau procurado sob mandato internacional de captura devido aos crimes perpetrados na Faixa de Gaza.
Segundo a Al Jazeera, este novo bloqueio, numa geografia já sob a pressão genocida da fome e da ausência de cuidados mínimos de saúde (ver links em baixo), depois da destruição quase total dos 36 hospitais de Gaza, pode gerar uma situação catastrófica para centenas de milhares de pessoas no norte do território.
Isto, quando as atenções dos media internacionais voltam a centrar-se em Gaza, depois de quase duas semanas de guerra com o Irão, iniciada por Israel a 13 de Junho, período durante o qual as IDF mataram cerca de 800 pelestinianos, grande parte deles quando procuravam desesperadamente comida nos pontos de ajuda humanitária existentes mas quase todos vazios.
A situação excruciante em Gaza levou mesmo o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanhez, a usar o termo genocídio para classificar o que Israel está a fazer em gaza, sendo o primeiro líder europeu a fazê-lo sem titubear, abrindo uma nova frente de pressão sobre Telavive.
Entretanto, em Teerão
Enquanto Israel procura voltar a aplicar toda a sua força letal contra a população desprotegida de Gaza, no Irão, o Governo do Presidente Masoud Pezeshkian e o aiatla Ali Khamenei, o Líder Supremo, desenvolvem o processo leal de saída do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o que coloca, em tese, Teerão no caminho da obtenção de armas nucleares.
Depois de o Parlamento iraniano ter aprovado a saída da AIEA, a instância Constitucional do país (Conselho da Guarda Revolucionária, que tem poder de veto sobre o Parlamento), ratificou a decisão parlamentar após os ataques israelitas e dos EUA à infra-estrutura nuclear iraniana nas últimas duas semanas.
A IRNA, agência oficial iraniana, cita o porta-voz do Conselho da Guarda Revolucionária, Hadi Tahan Nazif, para avançar que esta decisão é uma consequência directa dos ataques de Israel e dos EUA às instalações nucleares "pacíficas" do Irão.
Esta era a derradeira fase antes de a decisão ser submetida à aprovação final do Presidente Pezeskhian, sendo o país, a partir desse momento, livre para agir sem as grilhetas do TNP e da AIEA, o que, em tese, significa que pode começar a trabalhar na aplicação militar do seu urânio enriquecido.
O Irão acusa a AIEA de ser "uma organização ao serviço do regime sionista e dos EUA", tendo mesmo Teerão mostrado alegados documentos que prova que esta agência da ONU estava, antes da guerra com o Irão, a passar informação a Telavive sobre o programa nuclear do Irão.
Este contexto é de grande melindre porque o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avisou com elevada sonoridade que ordenará novos ataques, ainda mais robustos, se o Irão voltar a enriquecer urânio ou sejam percebidas movimentações no sentido da obtenção de uma arma atómica.
O que vários analistas consideram ser uma porta aberta para o regresso da guerra isarelo-americana contra o Irão, tendo o cessar-fogo sido uma mera gestão do conflito, porque o objectivo global de Washington e atacar a parte mais frágil do eixo estratégico (ver links em baixo) Pequim-Teerão-Moscovo no âmbito da disputa global pela nova ordem mundial em construção.