A cinco semanas das eleições Presidenciais de 03 de Outubro, onde o Republicano Donald Trump procura a reeleição contra Joe Biden, o antigo Vice de Barack Obama e actual candidato pelo Partido Democrata, as sondagens dos principais organismos e universidades norte-americanas apontam para uma consistente e forte probabilidade de a Casa Branca ir mudar de inquilino, sendo a distância entre os dois de 7% a 12%, dependendo das sondagens e há várias semanas consecutivas.

Entre os 45 Presidente eleitos nos EUA até hoje, em 231 anos, desde 1789, apenas 10 não foram reeleitos na eleição do segundo mandato, o último dos quais foi George H. Bush, em 1992, tendo um deles sido assassinado, John Kennedy, antes da ida às urnas. Donald Trump pode muito bem ser o próximo a ficar pelo caminho.

Com a pandemia da Covid-19 a intrometer-se de forma pesada na eleição e na economia dos EUA, Donald Trump, que desde o início desvalorizou a importância do novo coronavírus e depois procurou culpar a China pela "praga", está claramente em maus lençóis.

O eleitorado norte-americano, perante o avolumar de casos e mortes, onde os EUA lideram o mundo - (actualmente com 30,8 milhões de casos e 957,9 mil mortos) -, de longe, com mais de 6.7 milhões de infecções e 199 mil mortos, seguindo-se a Índia e o Brasil, mas a uma distância substancial, com, respectivamente, 5.4 milhões de casos e 86.752 mortos e 4,2 milhões de casos e 36,5 mil mortos - não parece querer perdoar a incúria e mostra, como as sondagens o sublinham sem excepções, estar pronto para o afastar da Casa Branca.

A campanha eleitoral de Trump está a correr mal e algumas das figuras de proa que ajudaram à sua eleição há quatro anos estão agora na corda bamba, havendo mesmo notícias de cabeças a rolar na sua equipa de estrategas.

Então, o que fazer perante o quase inevitável descalabro, a possível humilhação de uma histórica não-reeleição? São conhecidos casos desde que os EUA são uma potência global, mas o mais conhecido foi o de Bill Clinton, o Democrata que, acossado pelo escândalo sexual com Monica Lewinsky, uma das jovens estagiárias na Casa Branca, que procurou abafar com vários mísseis de cruzeiro atirados contra uma fábrica de produção de medicamentos no Sudão que foi confundida com uma base terrorista.

Agora, Trump repete o velho "truque" voltando-se para o inimigo de estimação no Médio Oriente, o Irão, anunciado de forma unilateral que as sanções que a ONU impôs a Teerão até 2015 e foram então levantadas após a assinatura do acordo, liderado por Obama, contando com as restantes potências, da União Europeia à China, passando pela Rússia, em que o Irão se obrigava a suspender o seu programa nuclear.

Recorde-se que assim que tomou posse, em 2016, Trump prometeu de imediato renunciar unilateralmente a este acordo, a pedido, público e notório de Israel e da Arábia Saudita, os dois grandes inimigos de Teerão no Médio Oriente, o que levou, numa realidade pouco vista na História, os tradicionais aliados de Washington colocados claramente contra, como foi o caso da Alemanha, França e Alemanha...

Agora, para além da restauração das sanções económicas ao Irão, os EUA de Donald Trump querem igualmente manter o embargo a armamento convencional que existe desde 2007 e que está previsto terminar em Outubro próximo.

Para já, numa perspectiva externa, com este movimento, Trump conseguiu colocar a atenção do mundo noutro canto do planeta e o desvio dos olhares incrédulos para a impotência da maior economia global em controlar o avanço da pandemia da Covid-19 intramuros...

Mas não parece que vá correr bem, porque, sem que se perceba se contava com isso ou não, e depois de Mike Pompeo, o Secretário de Estado norte-americano, o equivalente ao MIREX angolano, ter vindo anunciar a reposição das sanções, de Berlim a Paris e Londres, passando por Moscovo e Pequim rapidamente vieram a terreiro dizer que as sanções não vão ser reimpostas porque o Irão está a cumprir o acordo assinado em 2015 e foram os EUA que unilateralmente deixaram de cumprir.

Mas a ameaça está no terreno e os EUA, segundo Pompeo, vão "castigar" aqueles que não cumprirem esta determinação norte-americana, com sanções económicas se não alinharem com as imposições, o que, embora ainda não tenham sido anunciadas, por norma são sanções dirigidas às empresas desses países, como, por exemplo, do sector automóvel que passam a contar com dificuldades adicionais para vender no gigantesco mercado automóvel dos EUA.

O que se pode esperar no próximo mês é um recrudescer das tensões no Médio Oriente, apesar de França, Reino Unido e Alemanha já terem afirmado no Conselho de Segurança da ONU que as sanções não vão ser reimplantadas após Setembro de 2020, data em que estas são, por calendário acordado, reanalisadas pelas partes.

Alguns analistas admitem que, com esta determinação de Washington, os seus aliados na região, Israel e Arábia Saudita, podem sentir-se tentados a pressionar o Irão, que consideram um "inimigo mortal", o que deixam entreaberto o surgimento de um contexto de tensão, que seria, no limite, o objectivo de Donald Trump de forma a aliviar a pressão interna porque, tradicionalmente, o eleitorado norte-americano coloca-se ao lado dos seus Presidentes quando em causa está um "inimigo" externo, mesmo o que são "inventados" para o efeito.

Resta agora ver como actua a campanha de Joe Biden face a este eventual germinar de um conflito no Médio Oriente e se a imagem degradada do actual Presidente não está já num ponto irreversível.

Mas há um efeito que pode ser castigador para Trump. A norma é que o aumento das tensões na região do Gofo Pérsico conduzam a uma aumento do preço do petróleo e isso redunda no aumento do preço da gasolina, o que é um dos elementos de maior importância momento de o eleitor médio norte-americano decidir o seu voto.