Apesar de as autoridades iranianas se terem apressado a negar o envolvimento das suas Forças Armadas nos ataques à refinaria de Abqaiq e ao campo petrolífero de Khurais, em contraste com as acusações ao Irão feitas imediatamente pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, a Reuters garante que os ataques foram conduzidos por uma coligação que envolveu o Irão, tendo sido o Líder Supremo, Aiatola Ali Khamenei, a dar a ordem de lançamento dos misseis e dos drones.

Recorde-se que este ataque, que retirou do mercado 5% da produção global de petróleo e fez o barril bater recordes de décadas no que diz respeito a uma subida diária, levou a uma situação de iminente ataque ao Irão por parte dos Estados Unidos da América e da Arábia Saudita, com o Presidente Donald Trump a garantir que tinha "o dedo no gatilho".

Foi um dos momentos mais perigosos em todo o Médio Oriente, envolvendo as maiores potências militares do Golfo Pérsico, região responsável pela produção de mais de 20% de todo o crude consumido no mundo, com especial gravidade porque aconteceu pouco depois de o Irão ter abatido um drone norte-americano que sobrevoava o Estreito de Ormuz, que separa Golfo Pérsico do Mar de Omã.

Aparentemente, só a vinda a público do Presidente Hassan Rouhani - o Irão é governado através de um regime semi-democrático, onde o Presidente é eleito mas o poder final é detido por uma entidade religiosa, o Aiatola - empenhando a sua palavra de que Teerão nada tinha a ver com aqueles ataques, levou a que a dúvida se instalasse, retirando espaço de manobra para o ataque que estava a ser desenhado como resposta em Washington e Riade.

Porém, agora, segundo esta extensa investigação levada a cabo pela Reuters e escrita pelo jornalista Michael Georgy, os ataques de 14 de Setembro, primeiramente reivindicados pelos rebeldes Houthis, que, no Iémen, combatem, com apoio iraniano, o Governo apoiado pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, foram realizados e organizados pelos oficiais superiores da força de elite iraniana, a Guarda Revolucionária (GR), com o envolvimento directo do Aiatola Khamenei.

Numa das reuniões decisivas secretas, onde o ataque ficou decidido, um dos comandantes da GR terá mesmo dito: "É chegado o tempo de desembainhar as nossas espadas e dar-lhes uma lição!".

A Reuters adianta ainda que estes ataques foram estrategicamente desenhados para garantir que seria possível evitar uma "resposta devastadora" por parte dos Estados Unidos, permitindo a sua negação de forma eficaz e para não atingir nem civis sauditas nem norte-americanos, militares ou civis a trabalhar para a Aramco, a petrolífera saudita alvo dos ataques, sendo essa uma exigência de Ali Khamenei para autorizar a operação.

Punir EUA pela saída do acordo nuclear

Numa das primeiras reuniões preparatórias dos ataques de 14 de Setembro, em Maio, os oficiais e estrategas iranianos tinham como objectivo desenhar um plano punitivo para a saída dos EUA do acordo nuclear assinado em 2015 pelo ex-Presidente Obama, com a China, Rússia e União Europeia.

Essa saída unilateral de Washington do acordo nuclear, decidido por Donald Trump, culminou com o reatamento das pesadas sanções económicas, que incluem a proibição de venda do seu petróleo, o que gerou uma grave crise económica e social no Irão, tendo mesmo, segundo a mesma investigação - sustentada em declarações de oficiais superiores iranianos - sido colocada em cima da mesa a hipótese de lançar um ataque de grande intensidade às bases militares norte-americanas na região.

Mas no fim foi decidido que seria apenas desenhado um ataque à estrutura petrolífera saudita que permitisse ao Irão negar e manter a dúvida suficiente para impedir os EUA de avançarem com uma resposta militar que conduzisse a uma guerra aberta impossível de perspectivar até onde poderia chegar.

Mas, apesar destas revelações divulgadas agora pela Reuters, uma agência de notícias internacional com sede em Londres, Reino Unido, e com uma linha editorial comummente mais próxima do posicionamento geo-estratégico dos EUA e Reino Unido, a missão iraniana nas Nações Unidas negou de forma veemente a versão das fontes usadas pela agência.

Alireza Miryousefi, porta-voz desta missão, contactada pelos jornalistas, rejeitou de forma cabal que o Irão tenha estado por detrás dos ataques bem como toda a versão contida na notícia da investigação.

O Governo de Teerão, não respondeu às perguntas da Reuters.

Ainda não são conhecidas reacções da Casa Branca a esta investigação.