Com esta decisão de retirar o imprescindível apoio europeu à Palestina, Ursula Leyen ignora demonstra ignorar que este novo conflito no Médio Oriente está a ser travado entre Israel e o Hamas, movimento islâmico radical que governa na Faixa de Gaza desde 2006, e não com a Autoridade Palestina (Fatah) que é quem gere os territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental de forma parcial porque são geografias ocupadas por Israel desde a década de 1960 e mantém uma postura de luta pacífica e de acordo com as normas das Nações Unidas.

Por causa desta desleixada decisão de von der Leyen, alguns países da União Europeia vieram de imediato disparar severas críticas à Comissão, como foi o caso de França e Espanha, que se manifestaram claramente contra a decisão assumida pela alemã, que lidera um órgão de nomeação e não de eleição directa apesar de ser de extrema importância na gestão do bloco europeu.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, foi particularmente abrasivo ao considerar que a cooperação entre a União Europeia e a Palestina deve continuar porque "não se pode confundir o Hamas com o povo palestino e a Autoridade Palestina ou as organizações das Nações Unidas no terreno" que contam com Bruxelas para financiar parte dos seus projectos humanitários.

"Pelo contrário, o apoio europeu deve aumentar no futuro", disse ainda Albares, corroborado pelo Governo francês, que divulgou uma nota onde se mostra contrário à decisão de Ursula Leyen porque esta castiga o povo palestino.

Sem refúgio para escapar à fúria israelita

Os membros das Brigadas Al Qasam, o braço armado do Hamas, que no Sábado perpetraram uma das mais audazes acções militares em território israelita (ver links em baixo, nesta página) desde que o Estado hebreu foi criado, em 1948, espalhando terror e morte nos colonatos e nas cidades do sul do país, matado mais de 800 pessoas, na sua maioria civis, deixando um rasto de mais de mil feridos e um número indeterminado de reféns, estão já ou mortos, capturados ou no interior da Faixa de Gaza, anunciaram as autoridades israelitas.

A limpeza da presença "terrorista" no interior de Israel só foi possível quase 72 horas após o ataque inicial, o que demonstra uma até aqui desconhecida capacidade militar do Hamas, ao mesmo tempo que a aviação israelita lançava uma poderosa vaga de ataques sobre Gaza, destruindo centenas de edifícios e fazendo várias centenas de mortos.

"Os terroristas do Hamas não têm onde se refugiar", garantiu o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), o almirante Daniel Hagari, depois de as televisões de todo o mundo mostrarem em directo, na noite de segunda-feira, sucessivas e gigantescas explosões sobre Gaza, iluminando o "sky line" de uma das mais densamente povoadas geografias do mundo, com 2,3 milhões de habitantes numa faixa com 365 kms2, cujo território se alonga por apenas 40 kms de extensão por uma média de 8 kms de largura, entalado entre o Mar Mediterrâneo, Israel e o Egipto.

"Vamos encontra-los em todo o lado", apontou ainda este oficial das IDF citado pela Reuters, já depois do ministro da Defesa, Yoav Gallant, ter surpreendido o mundo ao chamar "animais em forma de humanos" aos palestinianos, sem diferenciação alguma, e anunciava um bloqueio total a Gaza incluindo alimentos, combustíveis, electricidade...

Mas há algo que está a gerar igualmente forte controvérsia, como, de resto, foi sublinhado pelo Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que é a desproporção da resposta de Israel, uma das mais fortes máquinas de guerra do mundo, equipada com a mais moderna aviação e artilharia, dispondo ainda do apoio ilimitado dos EUA, que fizeram chegar às costas mediterrânicas de Israel o seu porta-aviões USS Gerald Ford e vários contratorpedeiros em apoio à 6ª frota estacionada no sul do Mediterrâneo.

Esta movimentação dos EUA está relacionada com as fortes suspeitas já notadas de que o Irão esteve por detrás da operação do Hamas tanto no apoio à organização e planeamento como em equipamento militar e logístico, e com o real e efectivo risco de uma alastramento deste conflito que possa incendiar todo o Médio Oriente.

Irão apoia acção do Hamas mas nega qualquer relação com o ataque de Sábado

O ayatollah Ali Khamenei, a autoridade máxima do Irão, negou que o seu país tenha estado por trás do ataque lançado no sábado pelo Hamas contra Israel, mas reforçou o apoio iraniano aos palestinianos.

"Apoiantes do regime sionista e outros têm espalhado rumores nos últimos dois, três dias, incluindo que o Irão estaria por trás desta ação. Estes rumores são falsos", disse o ayatollah Khamenei num discurso numa academia militar citado pela Lusa.

Outras autoridades iranianas já haviam rejeitado na segunda-feira as acusações de envolvimento iraniano na preparação do ataque do Hamas, um movimento que Teerão defende abertamente há muitos anos, mesmo que as suas relações tenham vivido altos e baixos.

Khamenei declarou ainda que Israel "sofreu um fracasso irreparável nos campos militar e de informação" após esta ofensiva do movimento palestiniano.

"É evidente que defendemos a Palestina, defendemos as suas lutas. Nós beijamos os rostos e os braços dos promotores [do ataque] e dos corajosos jovens palestinianos. Mas aqueles que dizem que o trabalho foi realizado por não palestinianos, "não conhecem a nação palestiniana e estão a cometer um erro", acrescentou.

"É claro que todo o mundo muçulmano é obrigado a apoiar os palestinianos", segundo o líder supremo do Irão.

Para o ayatollah Khamenei, que defende regularmente o fim do Estado de Israel, "este desastre foi causado pelas acções dos próprios sionistas".

"O acto corajoso e altruísta dos palestinianos é uma resposta aos crimes do inimigo usurpador, que duram há anos e tem piorado nos últimos meses", afirmou.

Khamenei também descreveu como um "erro de cálculo" o facto de Israel "apresentar-se como vítima" após o ataque, sendo "um pretexto" para multiplicar os seus crimes.

Nunca tantos judeus foram mortos num único dia desde o Holocausto

O Presidente de Israel, Isaac Herzog, hoje que desde o Holocausto não eram assassinados num único dia tantos judeus como no ataque de sábado do grupo islamista Hamas, que segundo o último balanço matou mais de 900 israelitas.

"Desde o Holocausto que nunca foram mortos tantos judeus num único dia. E desde o Holocausto que não testemunhávamos cenas de mulheres, crianças e avós judeus, incluindo sobreviventes do Holocausto, a serem metidos em camiões e levados para cativeiro", assinalou num discurso difundido pelo seu gabinete.

"O Hamas importou, adotou e imitou o selvagismo do Estado Islâmico. Entrar em casas de civis num dia santo e assassinar famílias inteiras a sangue frio. Jovens e velhos. Violando e queimando corpos. Golpear e torturar as suas vítimas inocentes", acrescentou.

Herzog também exortou a comunidade internacional a "condenar de forma clara e ruidosa as acções do Hamas como condenam as acções abomináveis e indescritíveis do `estado Islâmico" porque hoje são o mesmo", e designar todo o aparelho do Hamas "como organismo terrorista".