Angola sabe ser má mãe e boa madrasta para os seus filhos. Trata como objectos descartáveis cidadãos que deram toda uma vida em defesa da Pátria e da soberania nacional. Como é que alguém que vem de uma família com história, honrada e com valores, um homem com uma trajectória já de Luta de Libertação Nacional, com dedicação, empenho e sentido patriótico durante o período de conflito armado, alguém com passagens na formação das tropas de Guarda-Fronteira de Angola (TGFA), Polícia de Guarda-Fronteira, Polícia Fiscal, Polícia Económica, que foi segundo comandante e depois comandante-geral da Polícia Nacional é humilhado e destratado como foi o comissário-geral Paulo de Almeida? Exonerado por telefone quando estava no exterior em representação do Estado? Advertido para voltar imediatamente ao País e num voo de cargueiro? E que chega ao País e é impedido de ir ao seu gabinete tirar os seus pertences e despedir-se da sua tropa. Porquê tamanha humilhação? Há um procedimento que vem do passado, do tempo de JES e que precisa de ser alterado na era JLo. Da mesma forma que um cidadão é informado ou convidado para exercer um cargo ou funções de Estado, não custa nada fazer um esforço ou ter a elegância de o avisar de forma antecipada sobre a sua dispensa. Um cidadão com quase 50 anos de serviço público e de dedicação à Pátria (Paulo de Almeida fez 47 anos de serviço público e dedicação à Pátria) não pode tomar conhecimento da sua exoneração por telemóvel ou saber da sua passagem para a reforma pelo WhatSaap e por interposta pessoa. É que depois não há uma palavra de conforto, de agradecimentos e de consideração. Um cidadão é afastado compulsivamente do poder e passa a ser tido como um leproso, alguém de quem não se deve ficar próximo, um indesejável.

Sente-se um vazio emocional, uma carência de afectos, uma apatia de espírito. Passam a existir limites nos relacionamentos, acessos vedados e orientações de bloqueios. Chega-se ao limite da condição humana. Criam-se e provocam-se situações anormais que dificultam e que quase impossibilitam que vivam uma vida normal. Querem um bom exemplo? Temos José Eduardo dos Santos que governou Angola durante 38 anos e que nos últimos anos viveu numa verdadeira " clausura", esteve só e sem amigos por perto, deprimido e abandonado. Na verdade, o sistema está estruturado para criar condições de colocar os "indesejáveis" numa situação de depressão pós-cargo.

Esta guerra de competências, de poder e de egos entre ministro do Interior e comandante-geral da Polícia Nacional é antiga, perniciosa e que fragiliza instituições. Há muito que quem é ministro do Interior tenta ofuscar, silenciar e afastar quem é comandante-geral da Polícia Nacional. E na era Eugénio Laborinho versus Paulo de Almeida atingiu o limite do ridículo, do desrespeito pelas instituições e pela Pátria. O conflito, a "guerra fratricida" é de tal ordem que, no final deste mês de Janeiro, foi tornado público um acórdão do Tribunal Constitucional que indeferiu um requerimento de inconstitucionalidade movido pela PGR contra o artigo 6.º da Lei de Bases sobre a Organização e Funcionamento da Polícia Nacional de Angola, quanto à direcção e dependência da Polícia Nacional ao PR, na qualidade de Comandante- em - Chefe das FAA.

Uma derrota para o ministro Eugénio Laborinho que nunca viu com bons olhos o facto de o comandante-geral da PNA despachar directamente com o Presidente da República uma situação que ele nunca admitiu e que procurou usar mecanismos legais para o impedir. Uma espécie de zangas políticas, lutas por poder e protagonismo que felizmente o Tribunal Constitucional percebeu e cortou logo. A PGR, na qualidade de fiscal da legalidade, interpôs a acção a pedir que o Tribunal Constitucional declarasse inconstitucionais as normas da Lei de Base da Polícia Nacional.

O Tribunal Constitucional acabou dar razão a Paulo de Almeida e à Polícia Nacional, e o ministério do Interior perde uma batalha numa "guerra fratricida" sem necessidade de existir, que fragiliza instituições e atrasa o normal funcionamento do País. É preciso pensar futuro, é preciso pensar País, é preciso acabar com os marimbondos da era de José Eduardo dos Santos e os Iluminados do Kafocolo que rodeiam João Lourenço. O País acima de tudo e de todos!