O seu arranque pressupõe a existência de uma estrutura profissional para cuidar da principal competição de clubes do País. Pressupõe também um suporte financeiro substancioso, de modo a que os competidores não tenham problemas de qualquer natureza, evitando assim o estupro à verdade desportiva, algo que acontece com inusitada frequência.
Não foram poucas as ocasiões em que, no meio do "Girabola", equipas entraram em greve devido a salários e ou prémios em atraso... com isso, essas formações nem sempre deram o melhor de si, depois de dias sem treinar. Era a forma de pressionar para receber o que lhe é devido. Ou seja, numa jornada estão a 100% e noutra estão a 10% ou menos, porque não prepararam determinado desafio. Obviamente que isso fere de morte a verdade desportiva. Evidentemente que torna o futebol uma mentira, como há muitos anos disse Victor Giovetty Barros, um dirigente desportivo que foi colocado nas boxes depois de meter o dedo na ferida.
Não estando propriamente nas mãos de um grupo de aventureiros - os líderes da comissão que trabalha para o efeito já deu copiosas provas de seriedade - , a Liga pode prosperar. A julgar, aliás, pela disponibilidade manifestada pelas empresas que se pretendem associar à iniciativa, é legítimo inferir por dados conclusivos que a Liga tem pernas para andar. E caminhar de forma segura em busca de performances que engrandeçam o futebol nacional.
Tendo a Liga um ambicioso plano de negócios que visa potenciar ao máximo a marca do futebol em Angola e no estrangeiro (aqui, inicialmente por via da diáspora), é óbvio que só começará a organizar provas assim que reunir todas as condições para o efeito. Ou seja, quando pegar no "Girabola", é porque estarão assegurados os recursos fazendários a distribuir pelos clubes. Não sendo cifras que cubram todas as despesas de uma equipa de futebol - convém não perder de vista que Angola é ainda um dos países mais caros do mundo -, dão, entretanto, para, com o bocado que recebem de patrocinadores, fazer uma época sem sobressaltos e termos um campeonato em que nenhum emblema ameace sair ou saia por dificuldades financeiras.
A materialização da primeira prova organizada pela Liga encerrará em si muitos significados. O maior de todos será a credibilidade depositada pelos patrocinadores na estrutura organizativa. Qualquer companhia que se preze quer ter a certeza de que o seu dinheiro será usado para os fins para os quais estão previamente destinados. Mais: só investe numa parceria quando o retorno está assegurado e a contraparte não dá problemas.
Ora, o grosso dos patrocinadores que vão ajudar a dar corpo ao "Girabola" sob gestão da Liga são empresas que já cá andam há muito, sendo todas de direito angolano. Algumas das quais, aliás, integram o famigerado consórcio que recebeu "ordens superiores" para apoiar o "Nacional" de futebol, mas não tem cumprido regularmente com as suas supostas obrigações. Esta história tem muito que se lhe conte, pois a única versão que se conhece até agora é a da Federação Angolana de Futebol (FAF). Sequer houve uma cerimónia formal de assinatura de contrato de patrocínio, além de que na conferência de imprensa realizada há meses para falar do assunto nenhum patrocinador deu a cara.
Não dispondo nós de mais elementos, porque a FAF nunca se prestou a esclarecer como e ao abrigo de que acordo o dinheiro dessas empresas pinga nos cofres do "Girabola", é natural que façamos conjecturas. Por isso, tudo parece indicar que os "patrocinadores" não se revêem na estrutura que organiza o campeonato, não se querem associar à imagem de fracasso da FAF e estão apenas a cumprir "ordens superiores". Será provavelmente por esta razão que alguns sponsors estão doidos para que a Liga assuma quanto ante o "Girabola", apontando para o efeito o início da segunda volta. Há, inclusive, uma leve pressão dos patrocinadores para que as coisas se encaminhem dessa forma.
No caso de os patrocinadores despejarem toda ou quase toda a dinheirama inserta no plano de negócios da Liga, estaremos em presença de um "cartão vermelho" mostrado à FAF. Calados, embora, os patrocinadores estarão a dizer "não confiamos naquela gente". Porque se confiassem, seguramente não teriam problemas de qualquer tipo em ajudar a alavancar a marca futebol, um potencial negócio que pode dar retorno em pouco tempo, desde que gerido com honestidade e seriedade. Atente-se ao exemplo do Williete!
Há quem possa argumentar que o "Girabola" não tem patrocinadores porque os números que envolvem a prova são altíssimos. Pode até ser. Mas suportar uma equipa apenas, no caso a Selecção Nacional, que faz em torno de seis ou sete jogos por ano, não é tão oneroso quanto um Campeonato Nacional num país tão caro como Angola. Se assim é, por que razão não há empresas a apostarem nas "Palancas Negras", que até são uma selecção "mundialista" e já com um número considerável de presenças em fases finais do CAN? Provavelmente porque as companhias que podiam patrocinar a Selecção Nacional AA não confiam na gestão pouco mais que nebulosa da FAF...
Em várias ocasiões, a direcção da FAF pôs-se a jeito para que todo o mundo lhe virasse as costas. A sucessão de autogolos marcados no consulado de Artur Almeida e Silva são inaceitáveis. A história do dinheiro dos prémios de apuramento da CAF escondido aos jogadores ainda está fresca na nossa memória colectiva e não lembra ao Diabo. Uma direcção séria jamais agiria da forma como agiu. Mesmo que tivesse necessidade de usar o dinheiro para outros fins, julgados prioritários, deveria ter negociado com os jogadores e explicar a situação. E não esperar a lição dada (e muito bem...) pela Guiné-Bissau, cujos jogadores alertaram os seus companheiros de profissão de Angola sobre o calote de que estavam a ser alvos.
Em resultado disso, a equipa fez corpo mole num período crucial da preparação para o CAN"19 no Egipto, deixou de fazer uma partida pré-competitiva e no final das contas acabou caindo na primeira fase. Mesmo depois de anulado um importante jogo de controlo e com a equipa em competição, os prémios não chegavam aos bolsos dos proprietários! Estava claro que o dinheiro havia sido descaminhado (o termo é até simpático). Não fosse assim, teriam evitado a tentativa de greve dos jogadores que estavam dispostos a não entrar em campo no segundo desafio, que seria com a Mauritânia. Só depois daquela ameaça, o dinheiro apareceu, provavelmente tomado por empréstimo para salvar a situação.
Agora, por exemplo, corre a maka dos árbitros, também envolvendo dinheiro. Quem pode acreditar numa direcção assim? Se calhar nem os próprios membros acreditam nesta direcção!