Esta crise também veio demonstrar a falta de preparação de muitos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento no caso de epidemias. A partir do momento em que a China não conseguiu conter o vírus dentro do seu território, era necessário haver um mecanismo de coordenação internacional (para além da Organização Mundial da Saúde) entre os vários países, que não fosse de mera recolha ou partilha de informação, mas com capacidade de acção em emergências como esta para produção e alocação de equipamento e pessoal médico numa lógica transnacional.

Por essa razão, é evidente que a ausência de uma resposta coordenada a nível global agudizou o problema, já que cada país está a responder de forma individual na ausência de um mecanismo de coordenação transnacional e muitos países no meio de escassez de equipamento estão a colocar restrições a exportação desse material para uso nacional apenas, o que é compreensível.

Também é notório que não têm adoptado as melhores práticas de países como Taiwan, Coreia do Sul e Singapura, que contiveram o avanço exponencial do coronavírus através de medidas de contenção nas fases iniciais, como o uso de testes para casos suspeitos, a identificação e isolamento de infectados e de todas as pessoas em contacto com estes, uma política conhecida como "contact tracing" e por essa razão conseguiram conter o avanço exponencial da epidemia e conseguiram manter as suas economias a funcionar sem adoptar quarentenas nacionais e medidas mais restritivas.

Em Taiwan, um dos países da linha da frente, o esforço foi liderado pelo Ministro da Saúde, Chen Shih-Chung, e pelo Ministro sem Pasta Audrey Tang, que desenvolveu várias aplicações digitais, incluindo um mapa digital para ajudar os cidadãos na compra de máscaras escassas no país, para dar um exemplo específico. Os países Asiáticos têm uma vantagem enorme, porque tiveram de lidar com a crise da gripe SARS de 2003 e a gripe dos suínos de 2009 e criaram mecanismos para lidar com potenciais epidemias, e foi nessa altura que Taiwan criou um centro de controlo de epidemias, que hoje coordena a luta contra a Covid-19.

Os países ocidentais como um todo desvalorizaram o impacto do coronavírus e responderam de forma tardia e não adoptaram as medidas iniciais implementadas pelos países da Ásia, anteriormente citados. Se o tivessem feito, não teria sido necessário adoptar medidas extremas como quarentenas a nível nacional. Os Estados Unidos ressaltam como um dos países que mais desvalorizaram o impacto do coronavírus e, ainda em Janeiro, a actual Administração considerava que o coronavírus estava controlado, obviamente os eventos revelam que o país não estava preparado, apesar de ter agências (como o CDC) para lidar com potenciais epidemias e foi isso que ocorreu em 2009 com a gripe dos suínos.

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