Quase no fim do seu longo discurso de mais de três horas, em que percorreu os caminhos da história da Angola independente, João Lourenço, depois de citar o antigo Presidente José Eduardo dos Santos, em 2002, ano do fim do conflito armado, fez este anúncio histórico.
Com este anúncio surpreendente, que lhe proporcionou uma larga salva de palmas, os três líderes dos movimentos que estiveram na luta armada contra o colono português, Jonas Savimbi e Holden Roberto, além de Agostinho Neto, serão assim, a título póstumo, honrados pelo papel histórico que desempenharam na luta contra o colonialismo..
Antes de anunciar esta decisão, João Lourenço tinha citado José Eduardo dos Santos onde este, em 2002, no seu discurso à Nação, logo após o fim do conflito, sublinhava que aqueles que amam verdadeiramente a paz têm de ser capazes de perdoar, independentemente das divergências que mantenham.
Estão igualmente enquadrados por este anúncio do Presidente da República os dirigentes portugueses da altura, os então ministro sem pasta Ernesto Melo Antunes, ministro da Defesa Nacional Francisco da Costa Gomes e ministro da Administração Interna António de Almeida Santos, todos, igualmente a título póstumo.
"É neste quadro, no espírito do perdão, da paz e da reconciliação nacional, da unidade da Nação, que vamos estender este reconhecimento nacional aos signatários dos Acordos de Alvor, atribuindo a todos eles a medalha comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional", disse.
O Acordo de Alvor foi assinado entre o governo português e os principais movimentos de libertação de Angola, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), em Janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, sul de Portugal.
Este acordo definiu os parâmetros para a partilha do poder em Angola, e notam as fontes históricas, com o propósito de equilibrar o poder entre MPLA, UNITA e FNLA.
Para justificar esta atribuição alargada, o Chefe de Estado lembrou que "o pós-Independência não foi fácil" porque a ele "seguiram-se 27 longos anos de uma guerra entre filhos da mesma terra, que dizimou a vida de milhões de angolanos, mutilou física e mentalmente várias gerações e adiou os nossos sonhos da madrugada de 11 de Novembro de 1975".
"Todos sabemos que a conquista da Paz foi muito difícil, requereu magnanimidade, serenidade e capacidade de perdão, requereu o compromisso patriótico dos melhores filhos de Angola", disse.
E aproveitou para lembrar o que disse o Presidente José Eduardo dos Santos na sua Mensagem à Nação proferida no dia 03 de Abril de 2002, quando o país se preparava para abrir um novo capítulo da sua história,: "Quem ama verdadeiramente a paz, tem que saber perdoar e reconciliar-se com o seu próximo, contribuindo assim para a união verdadeira e sólida dos angolanos, sem prejuízo para as divergências que uns e outros possam expressar".
E também Agostinho Neto aparece nas citações de João Lourenço: "A bandeira que hoje flutua é o símbolo da libertação, fruto do sangue, do ardor e das lágrimas e do abnegado amor do povo angolano".
Disse ainda que "não tem sido fácil reconstruir o país, construir a Nação e lançar bases sólidas para o desenvolvimento" que todos presenciam "o sacrifício que milhões de angolanos fazem todos dias, com esperança e confiança em todos os domínios da vida nacional, para fazer o nosso país crescer e para fazer do nosso país uma terra de prosperidade".
E defendeu que esta, a atribuição da medalha aos signatários dos acordos de Alvor, "é uma boa forma de contribuir para o fortalecimento da Nação e de inspirar a caminhada coletiva".
Numa primeira reacção a este anúncio de João Lourenço, o secretário-geral da JURA, braço juvenil da UNITA, o deputado Nelito Ekuikui considerou que o Presidente da República "cedeu à pressão da sociedade".