Vários cidadãos ouvidos por este jornal disseram que já se vive esta situação desde o mês de Janeiro e que nem os responsáveis das repartições, nem o Ministério da Justiça dizem o que se passa de concreto.
Em frente à repartição de identificação do Cazenga, o cenário que se vive diariamente, ainda de acordo com populares, é de extrema confusão entre as pessoas que aguardam para receber os bilhetes.
Com o rosto marcado pelo cansaço, a jovem Maria Bernardino, residente no bairro dos Kwanzas, disse ao NJ que tratou o seu documento de identificação no dia 11 de Janeiro e que até hoje não o recebeu. “Não sei o que se está a passar e ninguém nos vem dizer qual é o problema. É muito desgastante a pessoa vir aqui todos os dias, não há informações exactas, uns dizem que é falta de plástico, outros dizem que falta tinta. É uma pouca-vergonha”, reclama.
No distrito do Rangel a situação não é diferente. Vários funcionários sem nada para fazer, alguns a conversar ao telefone, outros com as pastas aos ombros a indicar que esperavam a hora da saída foi o cenário verificado.
Desapontada com a situação, Teresa Francisco disse que está com dificuldades para tratar de documentos e que pretende viajar para o exterior por razões de doença.
“Acho que se esqueceram que é com os bilhetes de identidade que se trata todo o tipo de documentos. As pessoas estão a sofrer muito com tudo isso. Estou muito doente e não consigo viajar por falta do bilhete para tratar dos documentos que são necessários”, explicou.
Quem também vive situação semelhante, aguardando a entrega do bilhete há três meses, é o jovem Gomes Eduardo, que também pretende tratar de documentos para viajar para o exterior a fim de concluir o mestrado em gestão de empresas.
No município do Sambizanga, o cenário encontrado foi idêntico. Carlos Alberto, de 35 anos, disse que se viu obrigado a recorrer a terceiros para tirar a segunda via do seu BI, que, ainda assim, até hoje também não recebeu. “É cansativo e irrita ao mesmo tempo. Nunca vi isso acontecer antes, e este é um problema que o País inteiro está a viver”.
Questionado sobre se tem informações da razão da não emissão de bilhetes de identidade, Carlos Alberto respondeu que é devido à falta de plástico. “Tenho amigos que trabalham em várias repartições e dizem que não há plásticos, mas oficialmente ainda não se disse nada”.
Maria Manuel é outra cidadã que não compreende por que razão, desde o mês de Janeiro, não emitem bilhetes e ainda assim continuam a receber documentos dos requerentes.
No distrito da Maianga e no município da Samba também se viu enchentes, sendo portanto muitos os municípios que se dirigem às repartições para tratar o bilhete ou para o tentar receber.
Ouvidos pela reportagem, vários munícipes disseram que a situação já está a tomar contornos alarmantes e que é necessário que os responsáveis do Ministério da Justiça informem a população do que se está a passar. Contactos feitos por este jornal nas províncias do Zaire, Cabinda, Bengo, Malanje e Lunda-Sul garantem que, desde o mês de Janeiro, não se emitem bilhetes de identidade.
De acordo com as nossas fontes, não há plástico para a sua impressão. A reportagem tentou contactar o ministério da Justiça para obter informações sobre o assunto, mas sem sucesso.