Porque a vacinação logo após a mordida, e antes da manifestação de sintomas da doença, é a única garantia de que esta não se manifestará, o jovem activista, que garante ter sido mordido por uma cão da polícia no Sábado, disse ao Novo Jornal Online continuar a procurar uma unidade hospitalar para ter acesso a essa vacina porque diz não ter dinheiro, 25 mil kwanzas, para a comprar numa farmácia ou ir a uma clínica privada.

Contactada pelo Novo Jornal Online, Engrácia Costa, porta-voz da Polícia Nacional, não confirmando o ataque referido pelo jovem, garante que todos os cães em serviço nas unidades caninas da polícia estão devidamente vacinados e, "naturalmente", também imunizados contra a raiva.

A raridade das vacinas anti-rábicas mostrada por este exemplo, levanta, no entanto, outro problema, porque nas últimas semanas estão a surgir diversos casos de mortes relacionadas com a raiva, não só em Luanda como também noutras províncias do país.

Há cerca de um ano, a capital angolana foi palco de um surto de raiva que fez dezenas de vítimas, na maior parte crianças, apesar das campanhas de vacinação de animais regulares iniciadas depois da epidemia desta doença que entre 2008 e 2009 provocou centenas de mortes em Luanda.

E essa tem sido a aposta para lidar com os cíclicos surtos de raiva, essencialmente provocados pelo elevado número de animais que deambulam pela cidade de Luanda, apostando na prevenção, através da vacinação dos cães ou, entre outras espécies, macacos.

Porque, como explicava a coordenadora provincial do Programa de Vacinação de Luanda, Felismina Neto, em declarações à imprensa feitas em 2015, vacinar os animais é mais eficaz, e também proceder à recolha dos cães vadios, que acorrer às situações em que as pessoas carecem de vacina depois de terem sido mordidas por animais potencialmente portadores da doença.

E deu como exemplo o preço das vacinas, que, para os animais, um frasco com vacina suficiente para entre cinco a 10 animais, custa dez dólares norte-americanos, para os humanos cada unidade é vendida a cerca de 100 dólares, sendo necessárias cinco doses para uma total imunização.

Importância da prevenção

A importância da prevenção, que as autoridades sanitárias garantem estar a ser feita através de campanhas de vacinação e de recolha de animais, emerge não só da ameaça potencial como também dos números dos casos registados em Luanda, dezenas no primeiro semestre, ou, por exemplo, do Bié, onde entre Janeiro e Junho foram confirmadas 22 mortes devido à raiva em resultado de mais de 800 mordedelas de cães suspeitos de serem portadores do vírus.

Na maior parte, as vítimas são crianças por estarem mais indefesas face a ataques de animais ou mais ingénuas perante o perigo que representa um animal desconhecido.

Por se tratar de um problema sério de saúde pública, como ficou demonstrado pelas centenas de mortes no surto de 2008/9, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em Março de 2015, lançou um alerta para a seriedade do problema em Luanda porque, apesar das campanhas, os casos continuam a surgir em números elevados.

O responsável da OMS em Luanda, em Março de 2015 realçou a importância da prevenção por ser a melhor forma de lidar com este problema, sendo muito mais prática que actuar através da vacinação depois de a pessoa ter sido mordido por um potencial animal portador da doença.

Erradicada na maior parte dos países desenvolvidos, a Raiva tem em África, com 24 mil mortes anuais em média e milhares de casos de mordidelas por animais suspeitos de serem portadores do vírus, um dos seus últimos refúgios depois de ter praticamente desaparecido de outros continentes por causa das campanhas massivas e contínuas de vacinação e de recolha de cães vadios.

Sintomas

O tempo entre a infecção e o aparecimento da doença varia muito e pode ser de dias a meses de incubação anos, mas, em média é de três a 12 semanas, e os seus principais sintomas são espasmos musculares, entorpecimento e formigamento, dor no local da mordida, agitação e ansiedade e dificuldade de engolir.

A toma da vacina após a mordida e antes do surgimento da doença propriamente dita é a única forma de evitar a morte, porque, depois de declarada a doença, esta é quase 100 por cento fatal.