Volodymyr Zelensky, que foi recebido com pompa pelo primeiro-ministro holandês, Dick Schoof, disse ainda aos jornalistas que lhe seguem os passos, que a NATO não está a agir de forma adequada à ameaça real de um ataque da Rússia à organização liderada pelos EUA.
Nesta deslocação a Haia, para mais uma presença numa Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da NATO - esteve em todas nos últimos três anos -, o chefe do regime ucraniano foi ainda mais longe no desafio ao Estados-membros.
Os países da NATO, para Zelensky, só não estão a gastar pouco com a Ucrânia, que diz ser o mesmo que defenderem-se a si próprios, como aquilo que estão a planear gastar no futuro, que é 5% do Produto Interno Bruto(PIB) - uma exigência de Donald Trump aos aliados europeu - não chega.
Ora, esta ousada crítica aos seus aliados europeus está a gerar algum mal-estar porque a meta dos 5% do PIB para gastos com a Defesa não está a ser bem acolhida pelos Governos europeus e a gerra contestação social, porque são gastos de tal forma avultados que só são possíveis se esses recursos forem desviados dos seus sistemas de saúde, educação e segurança social.
Mas o Presidente ucraniano não considera que essas inquietações façam sentido perante os riscos que esses gastos visam suprimir, que é, não apenas manter a Ucrânia abastecida de armas e dinheiro para manter o esforço de guerra com Moscovo, mas ainda, e também, como profilaxia para o ataque russo à NATO previsto para ter lugar até 2030.
Esta meta temporária para um ataque russo à NATO foi criada logo após o início da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro de 2022, na sequência de um longo processo de instabilidade gerada pelo golpe de Estado em Kiev organizado pelos EUA e União Europeia, em 2014, que destronou o Presidente pró-russo Viktor Yanukovich.
Apesar de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter sistematicamente negado tal pretensão ou razoabilidade de tal ideia, no que é partilhado por vários analistas, porque a Rússia não tem sequer capacidade militar para ocupar a geografia ucraniana que anexou, não faria sentido ou poderia atacar a maior e mais poderosa organização militar do mundo.
Mas isso não tem sido sequer considerado pelos líderes europeus que repetem essa ladainha periodicamente, como estratégia para convencer as sociedades europeias a aceitarem a imposição de Donald Trump para aumentarem de forma gigantesca a despesa com a Defesa para 5% dos seus PIB's.
"Na minha perspectiva, o aumento na despesa na Defesa na NATO é lenta e escassa porque a partir de 20230, Putin vai dispor de meios significativamente mais robustos e perigosos", disse Zelensky, sublinhando que "é a Ucrânia que agora está a conter a expansão russa".
O Presidente ucraniano sublinhou ainda, com o objectivo de reclamar mais apoio dos seus aliados ocidentais, o que tem vido a diminuir substancialmente, especialmente da parte dos EUA, e ainda mais agora com o Médio Oriente em brasa, que as suas forças armadas são quem por ora garante que os russos estão a ser mantidos à distância das fronteiras da NATO.
"Graças à Ucrânia, Puti não tem tempo para organizar as suas forças e os seus soldados estão a ser aniquilados e varridos no campo de batalha", disparou ainda o líder ucraniano em declarações à britânica Sky News.
Uma das vozes que mais amparam esta postura de Zelensky é a do chanceler alemão Friedrich Merz, que disse na antecâmara da reunião da NATO que começa nesta terça-feira, 24, qe a Europa não vai voltar a contar com os tempos calmos a que se habituou, apontando como responsável por essa realidade a Rússia.
Defende, por isso, não apenas o reforço do investimento em armas da Europa ocidental mas está num passo acelerado para rearmar a Alemanha como nunca aconteceu desde o fim da II Guerra Mundial, de forma, disse, citado peo Guardian, a "reconquistar o seu poderio tanto interna como externamente",
E com essa perspectiva em mente, Merz (na foto), que já é conhecido como o novo e mais aguerrido falcão de guerra na União Europeia, apontou este enconro das NATO em Haia como "histórico" pela forma como se adivinha que nele fique decidido um aumento gigantesco da despesa em armas.
E garantiu que a Alemanha finalmente acordou para o risco que a Rússia representa, dizendo que o seu país não devia ter ignorado por tanto tempo os avisos dos Países Bálticos sobre as intenções de Moscovo.
A caminho de Haia estava, esta manhã de terça-feira, 24, o Presidente dos EUA, Donald Trump, que, num claro momento de distanciamento da NATO e da guerra na Ucrânia (ver links em baixo) abraçada pelo seu antecessor, Joe Biden, em longas declarações aos jornalistas antes de embarcar no Air Force 1, mal se referiu à Cimeira da NATO ou ao conflito no leste europeu.
E quando o fez foi para não confirmar um encontro com Zelensky à margem do "meeting", embora, segundo a CNN, depois de embarcar, fontes oficiais tenham avançado que esse encontro vai mesmo acontecer.
Mas não foi revelada a agenda, embora o conflito e o apoio dos EUA, em queda, sejam tópicos de presença permanente nestes encontros.