O problema é que ainda não chegamos a 2026 e o valor do barril para o OGE do próximo ano já está atingido, sendo que, apesar de se tratar de um valor médio, todos os "oráculos" apontam para uma continuada perda no negócio do crude global.
Em perspectiva está que o Brent passe mesmo em baixa os 61 USD, o valor definido para o crude no OGE 2026, porque ainda não eram 11:50 desta segunda-feira, 15, hora de Luanda, e o barril já estava a valer "apenas" 61,1 USD, caindo perto de 0,12 % face ao fecho anterior, atingindo assim uma desvalorização que já não se via há dois meses.
E por detrás deste mau início de semana esta a crise nas Caraíbas, onde os Estados Unidos colocaram uma poderosa Armada, liderada pelo maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, com o fito de lançar uma operação de mudança de regime em Caracas.
Segundo o Presidente norte-americano, Donald Trump, depois de meses a destruir embarcações ao largo da costa venezuelana, que Washington garante serem traficantes de droga e o Governo de Nicolas Maduro garantir que são "apenas pescadores", um ataque em terra "vai acontecer muito em breve" se o Governo venezuelano não sair de cena, procurando refúgio longe do país que detém as maiores reservas de crude do mundo.
E essa questão, os mais de 300 mil milhões de barris de petróleo no offshore venezuelano, que está por detrás, ao mesmo tempo, da desvalorização da matéria-prima e da ameaça de Washington contra o regime de Nicolas Maduro, com a saída de cena das vendas de Caracas que até há pouco tempo esteve a beneficiar de um levantamento parcial das sanções dos EUA ainda durante a anterior Administração Trump.
Se Joe Biden pretendia com esse aligeiramento das sanções equilibrar os mercados com devido ás sanções à Rússia no contexto da guerra na Ucrânia, Donald Trump está a optar por outra estratégia: tomar conta das reservas venezuelanas apoiando activamente uma mudança de regime que permita ter em Caracas uma liderança mais "amiga" dos interesses de Washington.
Além desta possibilidade de as reservas gigantescas da Venezuela começaram a ser "melhor" aproveitadas com a mão dos EUA, o que esmaga os preços em antecipação, na Europa abrem-se outras perspectivas com uma difícil, mas não impossível, paz negociada entre russos e ucranianos com mediação norte-americana, o que impacta os mercados igualmente pela antecipação da chegada de mais crude russo aos mercados que está actualmente enclausurado pelas sanções a Moscovo.
Além desta evolução distinta em conflitos diferentes mas com iguais impactos nos mercados petrolíferos, a guerra a começar na Venezuela e a guerra a "acabar" na Ucrânia, outra frente movediça está a ameaçar os mercados e as expectativas das economias mais dependentes das exportações de crude, como a angolana.
Que é a ameaça de excesso de oferta para o próximo ano, e mesmo 2027, como aponta agora a JPMorgan, que, numa nota de Sábado, citada pela Reuters, adverte que a oferta de crude para os próximos anos vai ultrapassar largamente a procura, com uma nota a vermelho grosso: em 2026 a oferta subira três vezes mais que a procura.
Sim, não são boas notícias para Angola
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, em Angola, como, de resto, noutras dezenas de países em todo o mundo, este momento é mais uma razão para não se perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços muito próximo, mesmo abaixo dessa fasquia, do valor usado para desenhar o OGE 2026, que foram uns conservadores 61 USD.
Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde um superavit é sempre importante para resistir e superar as crises.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente â beira de 1 milhão de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

