A Polícia Judiciária (PJ) portuguesa deteve em Lisboa um homem próximo do ex-presidente da Guiné-Bissau Sissoco Embaló por suspeita de contrabando e branqueamento.
Segundo uma nota da PJ, o voo era proveniente da Guiné-Bissau, o suspeito tinha na bagagem cerca de cinco milhões de euros em numerário e a abordagem policial, em conjunto com a Autoridade Tributária, aconteceu na sequência de uma denúncia anónima.
O montante, de acordo com a Agência Lusa, foi apreendido pelas autoridades e o detido, estrangeiro, cuja identidade não foi revelada, vai ser apresentado a tribunal para aplicação de medidas de coação.
De acordo com a PJ, "o voo estava inicialmente classificado como sendo militar e, depois de Lisboa, seguiria para [o aeroporto de] Beja", no sul de Portugal, tendo-se posteriormente verificado que a sua natureza e o seu destino final "eram distintos" dos que tinham sido indicados às autoridades aeronáuticas.
A acção conjunta da PJ e da Autoridade Tributária prolongou-se durante "toda a noite e madrugada".
CEDEAO vai impor "sanções específicas" a quem entre no processo de transição
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou hoje impor à Guiné-Bissau "sanções específicas" a quem entrar no processo de transição, na sequência do golpe de Estado ocorrido no passado dia 26 de novembro.
"As autoridades irão impor sanções específicas a indivíduos ou grupos de pessoas que entrem no processo de transição", declarou o presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, aos jornalistas durante uma cimeira que reuniu os chefes de Estado do bloco regional em Abuja, capital da Nigéria.
Segundo a agência espanhola EFE, o chefe de Estado da Serra Leoa e presidente em exercício da CEDEAO, Julius Maada Bio, alertou, na abertura do encontro, para um aumento dos golpes de Estado que ameaçam a estabilidade da região.
Falando na abertura da 68.ª Sessão Ordinária da Autoridade dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, Bio sinalizou que "os fundadores da CEDEAO compreenderam que a democracia é indissociável da paz, da justiça e do desenvolvimento", alertando que, "hoje, essa ordem democrática está a ser posta à prova".
"O ressurgimento de mudanças inconstitucionais de Governo que ameaçam a nossa estabilidade regional compromete os direitos dos nossos cidadãos e enfraquece o nosso futuro colectivo", sublinhou Bio na cimeira, que se realizou após o golpe de Estado na Guiné-Bissau em 26 de novembro e a tentativa de golpe de Estado no Benim há uma semana.
Segundo Bio, "a instabilidade na Guiné-Bissau e a tentativa de golpe de Estado no Benim recordam [os Estados-membros] que a democracia requer vigilância constante e uma acção baseada em princípios".
"Em nome desta autoridade, condeno veementemente a mudança inconstitucional de Governo na Guiné-Bissau e a tentativa de subverter a ordem constitucional no Benim", declarou.
O presidente em exercício do bloco regional elogiou "a rápida mobilização das tropas e dos recursos aéreos da CEDEAO, que lideram a salvaguarda da ordem constitucional no Benim".
A CEDEAO, assegurou, mantém o seu compromisso de "apoiar vias credíveis, inclusivas e com prazos concretos para o regresso à ordem constitucional".
Após o golpe na Guiné-Bissau, a CEDEAO suspendeu o país de todos os seus órgãos de decisão "até que a ordem constitucional plena e efectiva seja restabelecida", decisão também tomada pela União Africana (UA), sendo que o chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) irão analisar, numa cimeira ainda sem data anunciada, a recomendação do Conselho de Ministros para a suspensão da Guiné-Bissau e a sua substituição na presidência rotativa da organização.
A CEDEAO é composta por doze países após a saída, em janeiro passado, de Burkina Faso, Níger e Mali, países governados por juntas militares que chegaram ao poder com golpes de Estado nos últimos anos e criaram a Aliança dos Estados do Sahel.
Além da Guiné-Bissau, agora suspensa, Cabo Verde é o outro país lusófono que integra a organização, estando representado nesta cimeira pelo Presidente, José Maria Neves.
José Maria Neves tem defendido a reposição da normalidade constitucional na Guiné-Bissau, o respeito pelos resultados eleitorais, a libertação dos detidos e a assunção do poder por quem foi democraticamente eleito, reiterando o princípio da tolerância zero face a golpes de Estado, segundo uma nota da Presidência cabo-verdiana emitida na véspera do encontro.
Um autodenominado "alto comando militar" tomou o poder a 26 de novembro, três dias depois das eleições gerais (presidenciais e legislativas) e um dia antes da data anunciada para a divulgação dos resultados na Guiné-Bissau.
A oposição e figuras internacionais têm afirmado que o golpe de Estado foi uma encenação orquestrada pelo Presidente Sissoco Embaló por alegadamente ter sido derrotado nas urnas, impedindo assim a divulgação de resultados e mandando prender de forma arbitrária diversas figuras que apoiavam o candidato que reclama vitória, Fernando Dias.
Entre os detidos está Domingos Simões Pereira, presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto Fernando Dias está refugiado na embaixada da Nigéria, em Bissau.








