Em todas ocasiões que isso ocorreu, a Presidência da República portuguesa não fez do acontecimento um tabu, um segredo de Estado com o pueril e insustentável argumento de que estaria adentrar na esfera privada de MRS.
Os órgãos de imprensa foram municiados com informações sobre a evolução estado de saúde de MRS, já que o estado de saúde do PR tocava, directa ou indirectamente, todos os portugueses, sendo uma questão de interesse público.
Ainda este ano, o primeiro-ministro português foi levado a um hospital público (Santa Maria) da capital do país depois de um mal-estar momentâneo.
Tanto Marcelo Rebelo de Sousa, como Luís Montenegro bem podiam recorrer às unidades de saúde da esfera privada, aos hospitais de referência como os da Luz, CUF ou Cruz Vermelha, mas optaram por hospitais públicos, em cujas unidades de saúde o povo vai diariamente para curar as suas doenças.
Nessas idas aos hospitais não se tem notícia de que as duas notáveis figuras tenham apanhado sarna ou foram acometidos de pruridos por terem ido aos hospitais que o povoléu frequenta.
O PR e PM tinham ainda como opção a vizinha Espanha, que fica a "escassos metros" de Portugal, e que goza de boas referências em matéria de assistência médica e medicamentosa. Adivinha-se que uma ida ao país vizinho em busca de cura causaria um escândalo político de dimensão nacional, com todas as consequências negativas daí resultantes.
Depois da alta hospitalar, MRS teceu largos elogios ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e agradeceu ao pessoal que cuidou da sua saúde.
"O SNS, uma vez mais, está de parabéns, do ponto de vista do agradecimento do Presidente da República e do cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, que aqui se confundem, o doente e o Presidente da República. Não é a primeira vez que enfrento situações mais complicadas nos meus dois mandatos e recorri sempre ao Serviço Nacional de Saúde em diversas unidades", disse visivelmente orgulhoso MRS
Numa mensagem ao país cerca de um dia e meio depois de ter dado entrada no Hospital de São João para ser operado a uma hérnia encarcerada, o chefe de Estado fez elogios a esta unidade, à sua equipa de profissionais e quis reforçar a confiança no SNS. "Os portugueses, com todos os problemas que tem o Serviço Nacional de Saúde, e nós sabemos que tem, de facto, devem ao Serviço Nacional de Saúde uma função inestimável. É por isso que se diz muitas vezes que é uma grande conquista da democracia, mas que precisa de ser alimentada, renovada e apoiada permanentemente porque tem sido uma garantia da saúde de milhões de portugueses ao longo destes 50 anos", referiu.
Em Angola, há um paradoxo, a raiar a ironia: os governantes não se cansam de afirmar que o Executivo têm vindo a fazer vários investimentos no sector da saúde neste consulado do Presidente João Lourenço, com a construção de modernos hospitais públicos para, dentre outros objectivos, fazer com os angolanos deixem de ir ao estrangeiro buscar tratamento médico complexo.
De facto, ninguém em sã consciência pode negar que foram construídas novas unidades de saúde e reabilitadas as já existentes, tendo sido apretechadas com equipamentos modernos de terceira geração para, segundo a ministra de tutela, tratar dos casos de maior complexidade.
Apesar dos investimentos feitos, não se tem memória de governantes e políticos de "peso" que tenham recorrido aos hospitais públicos, aliás ao "Dubai hospitalar" parafraseando o colunista deste jornal, Fernando Pacheco, quando acometidos de doenças, mesmo as patologias mais simples.
Em dezembro de 2018, no decurso da conferência de imprensa que decorreu no palácio da colina de S. José, o jornalista Manuel José, ex-VOA, questionou ao PR sobre as razões que faziam com que as elites, sobretudo governantes angolanos não recorriam aos hospitais públicos quando confrontados com doenças, viajando, mais das vezes, para o estrangeiro em busca de saúde.
Segundo o jornalista, o sistemático recurso ao estrangeiro em nada ajudava a melhorar a qualidade da saúde no nosso país, assim como a humanização desses serviços.
O PR, em resposta, mergulhou em evasivas tendo abordado despropositadamente a situação dos doentes angolanos que foram enviados ao estrangeiro pela Junta Nacional de Saúde (JNS). Disse, por outro lado, que a situação nos hospitais estava a registar algumas melhorias.
JLo socorreu-se de um argumento infeliz para justificar que ele próprio recorria às unidades de saúde do país tendo feito referência às suas supostas idas à Clínica Girassol.
Desde que está no poder, há 8 anos, nunca os Serviços de Impresa afectos à Presidencia da República fizeram referência, por mínima que fosse, a ida do PR à referida clínica para tratar de questões de saúde, daí que a dúvida seja legitima. Noticiaram, isso sim, que JLo já esteve no local, em duas ou três ocasiões, mas em visita a pacientes lá internados.
É dado adquirido que muitos membros do Executivo de JLo viajam com frequência para estrangeiro a tratamento médico, provavelmente, por não confiarem em serviços de saúde que eles próprios dizem ter melhorado significamente.
Portugal, um minúsculo país à beira-mar plantado, tem sido um dos destinos preferidos dos nossos doentes de "luxo". Apesar de pobre, sem petróleo nem diamantes, o país tem um dos melhores serviços de saúde da Europa, ao ponto de os pacientes "fugirem" do sistema saúde privado para o público.
De facto, não deixa de ser um contrassenso que o Estado esteja a fazer grandes investimentos na área da saúde, mas a elite política/governativa não confia na qualidade desses serviços, optando por procurar a cura no estrangeiro.
Um indicador está no facto de vários membros da nata política angolana ter "optado" por morrer no estrangeiro, sobretudo em Portugal, depois de Angola ter-lhes servido como fonte de enriquecimento.

