O laureado com o Nobel da Paz (na foto), graças trabalho junto das mulheres vítimas da violência que há décadas devasta a RDC, insurgiu-se contra a coligação entre o actual e o anterior Presidentes, fazendo eco de um vasto leque de críticas sobre a forma como o processo democrático congolês foi, alegadamente, subvertido durante o período pré-eleitoral das eleições gerais de Dezembro de 2018, que conduziu à eleição de Félix Tshisekedi para o lugar que Joseph Kabila ocupava desde 2001.

Com uma larga maioria no Parlamento, a Frente Comum para o Congo (FCC) de Kabila, com 330 dos 485 lugares, foi o estranhamente claro vencedor das legislativas.

A plataforma de apoio a Tshisekedi, a CACH, conseguiu apenas 50 lugares na Assembleia Nacional.

O FCC de Kabila também ganhou de forma folhada a maioria dos governos provinciais e dos parlamentos regionais.

Mas as dúvidas sobre a lisura do processo democrático acumulam-se e foram a marca mais forte das eleições na RDC, onde os observadores da Igreja Católica e os dados consultados por organismos internacionais davam a vitória clara ao concorrente Martin Fayulu.

No entanto, os resultados oficiais acabaram por ser confirmados com a pressão de organizações africanas e pan-africanas como a SADC ou a União Africana depois de um período de manifesta surpresa e suspeição assumida pelo então Presidente, o0 ugandês Paul Kagame.

Agora, face à disparidade de forças no Parlamento, Kabila está prestes a garantir manter uma forte influência na governação do país, com esta coligação na forja entre o seu partido e o partido do Presidente Tshisekedi.

Recorde-se que muitos na oposição acusaram Thisekedi de ter feito um acordo pré-eleitoral com Kabila para garantir que seria eleito contra a promessa de não hostilização de Kabila nem dos seus interesses económicos e financeiros.

Joseph Kabila foi sobejamente acusado de ter manipulado as eleições através de um controlo férreo da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI).

E este acordo não afasta essas suspeitas, até porque o FCC de Kabila acaba de garantir quer vai liderar a coligação governamental que já está acordada com a CACH de Tshisekedi.

Face a este cenário, o vencedor do Prémio Nobel, o ginecologista Denis Mukwege, decidiu sair a público para pedir ao Presidente da República para não "trair o povo" que "deseja reais transformações e mudanças profundas" que a manutenção do poder nas rédeas de Kabila não garante.

Por isso, Denis Mukwege exige a Félix Tshisekedi que assuma a responsabilidade de formar um Governo sem Kabila a comandar e que corresponda aos anseios do povo, porque se esta opção se mantiver é claramente é Kabila que vai manter o comando da RDC, dando corpo e razão para toda a controvérsia que envolveu as eleições.