Esta súbita queda da matéria-prima é uma consequência das políticas de reposição de quotas da OPEP+, que já garantiu mais 511 mil bpd em Setembro, e dos avanços e recuos de Donald Trump na frente da batalha tarifaria que trava com o resto do mundo.
Além deste cenário global, não deixam de ser igualmente relevante os dados da depressão que assola a economia norte-americana, com mais desemprego e mais inflação, ou ainda os dados que mostram uma crescente fragilidade da economia chinesa.
Mas, para a Reuters, o que é mesmo visível sem quaisquer margens para dúvidas é que nos EUA são ainda os veículos de grande cilindrada que determinam o sobe e desce do valor do petróleo, com o fim da época estival e o regresso dos "colossos" às garagens da classe média americana.
E é assim que o barril de Brent estava esta quarta-feira, 13, a valer, em Londres, perto das 10:00, hora de Luanda, pouco mais de 65,6 USD, uma perda de 0,4% face ao fecho da anterior sessão.
Sobressai destes valores uma diferença de quase 5 USD para o valor usado pelo Governo angolano para elaborar o OGE 2025, que foi de 70 USD para a média anual, sendo igualmente substantivo verificar que nestes sete meses essa média está a ser conseguida in extremis, mas claramente ameaçada pela expectável mudança de rumo para a guerra russo-ucraniana após a reunião entre os Presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, já nesta sexta-feira, 15,em Anchorage, Alasca.
Ainda assim, a OPEP estima, no seu relatório de Agosto, que a procura global vai crescer 1,38 mbpd em 2026, o que é, alerta a Reuters, mais 100 mil bpd que a anterior estimativa, embora isso leve a uma descida substancial no valor médio estimado pela Agência Internacional para a Energia, que aponta para os 51 USD no Brent, claramente abaixo dos anteriores 58 USD devido ao risco de a oferta e a procura poder superar a procura nos próximos tempos.
E isso é resultado directo da forte aceleração da reposição da produção pela OPEP+, o cartel que junta deste 2017 os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia alinhada com mais 10 produtores independentes, que poderá chegar aos 800 mil barris por dia nos próximos meses.
E as coisas só não estão mais difíceis para as economias petrodependentes, como a angolana, porque Donald Trump estendeu esta semana as tréguas na guerra tarifária com a China por mais 90 dias, uma das questões para as quais Angola mantém toda a atenção.
Luanda não perde de vista o sobe e desce dos mercados
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil...
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.