São, no momento, 09:45, hora de Luanda, e o barril de Brent está a valer nos mercados internacionais 68,15 USD, uma descida de pouco mais de 0,70 %, gerada pelos dados conhecidas nas últimas horas sobre um aumento da oferta inesperado.
Esse aumento, como quase sempre, não chega sozinho para fazer estragos nas contas dos exportadores com economias mais débeis, como é o caso de Angola, também arrastam o "azar" com eles, porque a procura não está igualmente a ajudar... pelo contrário.
Olhando para as peças que a Reuters já divulgou nestas primeiras horas do dia, facilmente se percebe que os mercados estão confusos e a procurar a hermenêutica adequada para interpretar aquilo que não parece ter explicação... uma explicação razoável, pelo menos.
É que tudo indica que o aumento da oferta está directamente relacionado com, apesar de nalguns produtores se estar a notar um aumento da extracção em pista própria, como é o caso do Iraque, a política da OPEP+ que lançou em Maio deste ano um galopante aumento das quotas.
Os analistas da Agência Internacional de Energia (AIE) admitem mesmo que até ao final do ano a OPEP+ estará a injectar mais entre 900 mil e 1 mbpd nos mercados, depois de começar com apenas 111 mil e estar actualmente nos 511 mil novos barris de crude diariamente a mais para "queimar".
Questão que se impõe: Porquê?! Porque é que o "cartel", de onde Angola saiu há cerca de dois anos, está a recuperar a produção que eliminou desde a pandemia da Covid como ferramenta de controlo em alta dos preços, sendo que se adivinham novos excessos de oferta? É que parece mesmo que a medida contraria os interesses dos países membros.
A não ser que não seja bem assim e que, como alguns analistas admitem, exista um acordo secreto entre russos e sauditas para beneficiar os Estados Unidos desde que o Presidente Donald Trump pressionou Riade e Moscovo assim que chegou ao poder, em Janeiro deste ano, para reduzir os preços porque essa era, e é, o caminho mais curto para baixar a inflação nos EUA.
Só não se percebe a troco de quê, porque sauditas e russos precisam de preços mais altos para suprir as suas necessidades financeiras e mesmo nos EUA um dos "departamentos" mais relevantes no apoio a Trump, a indústria do fracking fica com os nervos à flor da pele sempre que o barril desce um cêntimo que seja devido ao seu elevado breakeven.
Curiosamente, os ganhos dos primeiros dias desta semana estiveram linkados aos dados sobre os stocks norte-americanos, que têm vindo a baixar com alguma regularidade, apesar de a isso se juntar, ou anteceder, um problema de desemprego e de inflação, e com a FED a reduzir as taxas de juro directoras, mesmo que pela fasquia mínima de 0,25%, que muitos analistas garantem sem escasso para mexer positivamente na procura.
E sim, a este puzzle já difícil de montar de forma a obter uma imagem nítida das razões que movem esta montanha-russa, acrescem as crises "perpétuas" na Ucrânia, onde as forças de Kiev parecem estar a ganhar "skills" para fazder explidir refinarias e terminais de gás e crude na Rússia...
Ou no Médio Oriente, onde a turbulência de Gaza, com a crescente agressividade israelita, mantém sempre em stand by um possível regresso da turbulência entre Teerão e Telavive.
Mas em pano de fundo a estas crises, mais a do Leste europeu, estão as ameaças e os recuos de Donald Trump de aplicar sanções e tarifas a países como a China e a Índia porque não estancam as compras de energia russas, ou ainda a exigência de Washington para que os seus aliados europeus não apenas deixam em definitivo de comprar crude a Moscovo como a avançarem destemidamente, mesmo que isso signifique o suicídio económico, para tarifas de 100% a chineses e indianos...
O cenário global não está fácil de perceber e um sector como o petrolífero, um negócio sensível tanto a problemas efectivos como a imaginários, provoca grandes dores de cabeça a quem tem de gerir economias que dependem sobremaneira dele.
É o caso de Angola que, apesar de longos meses com o barril a valer menos que o valor médio estimado para elaborar o OGE 2025, este documento-Lei, que rege os gastos e as receitas, não foi mexido, e já não deve sê-lo até ao final do ano, porque o próximo já está a ser desenhado, não tira um olho dos gráficos...
Apesar da luz ao fundo do túnel...
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.