Depois de um longo processo de negociações com as autoridades angolanas, a Africell agora arranca as suas operações em Angola. Há já um sentimento de dever cumprido?

De facto, correram 14 meses desde que nos foi atribuída a licença. Desde então, foi necessário construir uma empresa de raiz, uma operação local, para isso contribuiu o grupo como um todo. Naturalmente, a equipa local também desenvolveu todos esforços, no sentido de implementar, em primeiro lugar, não só uma rede, mas também uma equipa e uma empresa nova. Portanto, ainda que a estrada e o caminho sejam longos, para a fase em questão, há um sentimento forte de felicidade, por se ter atingido um primeiro objectivo que era essencial e muito importante para a companhia.

Num período de cinco anos, dentro do plano de negócios da empresa, quantos clientes pretendem ter?

Hoje, o mundo é muito rápido e em cinco anos muita coisa acontece. Do ponto de vista da ambição e do planeamento, o que a Africell espera atingir em cinco anos é um crescimento grande. A Africell tem a ousadia e a ambição de liderar o mercado, isso significaria ter 15 milhões de subscritores no prazo de cinco anos, considerando que Angola tem cerca de 30 milhões de habitantes.

De que forma vão alcançar 15 milhões de subscritores em cinco anos, quando, por exemplo, estão na Serra Leoa, na Gâmbia, na República Democrática do Congo e no Uganda e, no conjunto, têm menos de 30 milhões de subscritores?

O mercado angolano é, de facto, diferente, tem dinâmicas muito específicas. Os mercados não se medem exclusivamente pelo número de pessoas. O poder de compra e a adopção de tecnologia são diferentes entre os diversos países, de acordo com as características, e nós, nos últimos três anos, temos levantado muitas informações com estudos, no sentido de percebermos o que é que o consumidor e o mercado angolano, em particular, querem, já para não esquecer que temos uma população que cresce a um ritmo galopante e, em pouco tempo, metade da população terá menos de 30 anos. Portanto, são as novas gerações que são muito entusiásticas em relação às tecnologias, gostam de tecnologias. Portanto, estamos muito confortáveis com os objectivos que estabelecemos, com crescimento de subscritores no período que queremos. Estamos confortáveis e, naturalmente, vão requerer investimentos e vão requerer uma capacidade de inovação e adaptação ao mercado constante.

Já que pretendem liderar o mercado, que estratégia têm para contrapor ou litigar com a Unitel, a maior operadora do mercado?

Há dois vectores fundamentais para a prossecução dos objectivos de crescimento e de liderança de mercado. Estes dois eixos não significam que não existam muitas outras medidas, mas eles são elementos essenciais para atingir, de facto, esses objectivos. O primeiro está ligado à qualidade de serviço distintivo face aos restantes operadores de mercado, o outro é garantir um equilíbrio desta qualidade com os preços acessíveis ao bolso do consumidor. Essas são duas peças-chave para se conseguir atingir o objectivo. Hoje, a actuação no mercado é feita duma forma muito mais homogénea, ou seja, os clientes são pouco especificados quanto às suas necessidades. Há recargas de voz e dados, mas não existe nada mais específico para um servir público, em particular.

As operadoras do sector queixam-se de custos operacionais elevados. A ser verdade, não cai por terra a garantia de que trarão para o mercado preços atractivos?

Antes pelo contrário, ou seja, esta estratégia de ter qualidade de serviço e preços baixos é um driver de procura, ou seja, nós hoje olhamos para o mercado continental e comparamo-nos com os restantes países. Quer em consumo das comunicações, quer nos preços dos equipamentos, se compararmos Angola com outros países, veremos que temos preços muito proibitivos. Existem distâncias muito grandes, e é nesse eixo que se pretende actuar, de forma que o preço e a qualidade praticada aumentem a procura desses tipos de serviços. Este mercado não se transformará, exclusivamente, em mercado que se pretende disputar quotas, antes pelo contrário, aumentar o valor desse mercado e aumentar a procura dos serviços. Portanto, essas são as ferramentas de crescimento essencial para o crescimento da Africell.

Qual foi a solução encontrada na partilha de infra-estruturas com a Unitel? Chegou-se a falar em braço-de-ferro entre as duas operadoras...

Na nossa perspectiva, no global, a partilha de infra-estruturas produziu bons resultados com a esmagadora maioria das empresas e dos players que estão no mercado. Portanto, nós, hoje, partilhamos diversas infra-estruturas com a Movicel, com a ENDE, com a EPAL e com a própria Polícia Nacional. Há um protocolo para a disponibilização de infra-estruturas e há sites em que já existem equipamentos da Polícia. No geral, a partilha de infra-estruturas foi um êxito, tinha sido fortemente considerada quanto aos investimentos. No caso particular da Unitel, ela não aconteceu.

Porquê?

As razões foram partilhadas com as autoridades reguladoras.

Ser líder do mercado requer política bem estruturada de atracção de clientes...

A Africell tem uma filosofia de interacção com os clientes, baseada na disponibilização de serviços e de produtos, com base na proximidade, não ao contrário, baseada em lojas onde as pessoas vão à procura dos produtos. Portanto, pretendemos estar nas comunidades, estar nos bairros e, naturalmente, ter algumas lojas mais orientadas onde as pessoas possam conhecer os produtos, ter informações, não tanto como sendo as âncoras de distribuição dos produtos. Portanto, estamos a treinar e vai avançar para o mercado um conjunto de diversas equipas móveis e de trabalhadores que irão fazer distribuição de proximidade.

Como serão identificadas as equipas?

As pessoas estarão devidamente identificadas, irão trabalhar em equipas, irão fazer pequenas activações da marca nas comunidades, porque o sistema operacional da Africell permite que on boarding no terreno seja feito remotamente através de recolha electrónica da documentação, dos dados biométricos do subscritor. Irão ver centenas de quiosques espalhados por toda a cidade e, portanto, isso funcionará sempre com algumas lojas âncoras, mas destinadas à informação, à experiência de produtos e de marcas. O plano implica milhares de distribuidores comerciais e, portanto, também aqui houve uma preocupação de substituir alguns custos alocados tipicamente em rendas e privilegiar o desenvolvimento de mão-de-obra e a criação de emprego para as pessoas.

Em entrevista ao Expansão, o empresário Minoru Dondo manifestou interesse em entrar para o capital da Africell. O que lhes pareceu a intenção?

Somos uma equipa executiva, temos estado altamente focados em construir o negócio e ter operação. A Africell tem accionistas privados. Essa pergunta deve ser colocada ao investidor, bancos de desenvolvimento, no final do dia ao Governo norte-americano. É uma questão que deverá ser colocada, naturalmente, ao grupo, aos accionistas, enfim, não à equipa que está focada no dia-a-dia em serviços com os clientes e trazer o serviço.

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