A incapacidade já tida como dado adquirido de que a OPEP+, a organização que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados com a Rússia à frente, não é capaz de aumentar a produção global devido ao acentuado desinvestimento na infra-estrutura produtiva e na pesquisa por novas reservas, dos últimos anos, especialmente desde 2014, quando a matéria-prima iniciou um trambolhão de mais de 80%, é um dos vilões deste filme de terror para as grandes economias globais dependentes das importações de energia.

E, a juntar a esta sequência de imagens fortes, estão já em acção os "spoilers" que apontam para que os líderes de facto da OPEP+, Arábia Saudita e Rússia, estão firmes e hirtos na condução do cartel para manter a posição actual de produção limitada de forma a controlar os mercados em alta.

As crescentes tensões geopolíticas na Europa, onde os Estados Unidos têm reafirmado exaustivamente que a Rússia vai invadir a Ucrânia, e a NATO, a organização militar defensiva criada para fazer face ao expansionismo da antiga União Soviética, parece estar já a limpar as armas, apesas de Moscovo negar tal intenção, ou ainda no Médio Oriente, com os rebeldes do Iémen, os Houthis, apoiados pelo Irão, a atacarem repetidamente as monarquias do Golfo, são o outro vilão deste filme de guerra para as grandes economias europeias.

O terceiro "artista" deste documentário da vida selvagem em que o mundo se está a transformar é a transição energética imposta pela evidente degradação climática gerada pelas emissões de gases poluentes, onde a queima de hidrocarbonetos é a principal chaminé de gases com efeito de estufa, o que leva a que sejam cada vez mais as multinacionais estejam a reduzir os investimentos no sector petrolífero, o que, a médio prazo, condena toda a indústria à medida que as energias alternativas e não-poluentes se vão impondo e o crude emerge como o mostro que está a secar e a aquecer o planeta para lá daquilo que é suportável pela humanidade tal como a conhecemos.

Há cinco semanas que as duas maiores referências do negócio global de crude estão a subir e esta semana começou igualmente com ganhos, estando o Brent, vendido em Londres, que serve de referência para as ramas exportadas por Angola, a subir, hoje, terça, 25, mais 0,82%, nos contratos para Março, chegando aos 86.75, perto das 09:20, hora de Luanda.

O WTI de Nova Iorque, que serve de azimute para o negócio nos EUA, a maior economia do mundo, à mesma hora, subia 0,22%, para os 83.49 USD, nos contratos para Fevereiro, o que permite verificar uma sólida afirmação em alta da matéria-prima, apesar de a pandemia da Covid-19, que passou de protagonista a artista secundário neste filme planetário, estar com cada vez mais casos mas menos severos tanto na saúde humana como nas economias mais salientes no planeta.

Enquanto as grandes economias do hemisfério norte, desde logo a dos Estados Unidos, da Europa, do Japão ou da China e da Índia, vivem momentos dramáticos devido ao crude em alta - a ameaça de alta dos juros nos EUA travou ligeiramente a subida inicial, na segunda-feira - que serve de travão para o almejado crescimento económico que era esperado após o fade out da pandemia do Sars CoV-2, alguns países exportadores vivem momentos excitantes, na primeira fila deste cineteatro onde a humanidade se vê na tela, como é o caso dos exportadores do Golfo, onde está concentrada a grande capacidade de aumento da produção devido à natureza dócil dos seus campos extractivos.

Para Angola, que é um dos países que mais teria a ganhar com esta alta nos mercados energéticos, por causa da crise económica que atravessa há anos, no entanto, a cadeira de onde vê a "fita" esta nas últimas filas do cinema porque esta alta nos mercados está a ser acompanhada por uma degradação permanente da sua capacidade de produzir, estando mesmo, actualmente, abaixo da quota estipulada pela OPEP no âmbito do programa de aumento da produção em vigor, que vai nos 400 mil barris por dia, mensalmente, e que vigora deste Julho de 2021.

Com uma produção diária de cerca de 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), Angola, que já produziu perto de 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, é uma das grandes vítimas do desinvestimento das majors em todo o mundo, devido ao elevado breakeven por barril extraído, em comparação com, por exemplo, o Médio Oriente, que é largamente inferior.

Isto, quando se sabe que o petróleo ainda representa mais de 95% das exportações nacionais, 60% das despesas do Estado e aima de 35% do PIB.

Este retrato é uma das razões pelas quais o FMI, como o Novo Jornal noticiou aqui, veio, no decurso da última avaliação do seu programa de apoio financeiro, em curso desde 2018, pedir ao Governo de João Lourenço uma aposta clara na diversificação da economia de forma a libertar o País da dependência do crude.