É tanto melhor que o barril já está de novo acima do valor de referência usado pelo Executivo de João Lourenço para a elaboração do Orçamento Geral do Estado para o ano de 2023, afastando, também, o receio de uma revisão do documento se esta queda não fosse travada.

Para já, com o barril a valer 75,32 USD, mais 1% que no fecho de quinta-feira, perto das 09:40, hora de Luanda, o pior parece ter passado, não só nos mercados petrolíferos como nas bolsas, igualmente afectadas pela queda dos três bancos norte-americanos, especialmente o Silicon Valley Bank, e depois a tempestade que se abateu sobre o Credit Suisse, com o Estado helvético, através do seu banco central, a ser obrigado a injectar mais de 50 mil milhões USD para equilibrar a situação.

Entre segunda-feira e o final do dia de quinta-feira, o crude perdeu mais de 10%, sendo esta a pior semana desde Dezembro de 2022, exceptuando esta sexta-feira, onde um céu azul tomou o lugar das trevas que pendiam sobre a economia mundial, fazendo lembrar a crise de 2008, despoletada pelo colapso do Lehman Brothers, nos EUA.

A ajudar este reequilíbrio dos mercados está ainda o conhecimento de que russos e sauditas, os dois maiores produtores e exportadores da OPEP+, reuniram os seus responsáveis pelo sector para analisar os mercados, sendo que são conhecidas as posições destes dois gigantes da energia, que é uma disponibilidade permanente para agir em caso de flutuações drásticas nos preços, com cortes ou aumentos da produção, dependendo do cenário.

Os analistas entendem ainda que o facto de o Banco Central Europeu ter ignorado a situação na banca e mantido a sua linha de actuação face à inflação, com mais um aumento de 0.50% nas taxas de juro, que já estão nos 3,50%, dando como sinal aos mercados que a situação está controlada e que esta mini-crise não tem pernas para andar.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.