Com o assassinato do general Qassem Soleimani, um dos mais importantes líderes militares do Irão, em Bagdade, capital do Iraque, na sexta-feira, o barril de Brent subiu, nesse mesmo dia, quase 3 por cento.

E, com o fim-de-semana de permeio, sem que a tensão tenha baixado, pelo contrário, aumentou com uma sucessão de novas ameaças, a fasquia dos 70 dólares foi mesmo ultrapassada, o que já não sucedia deste Setembro do ano passado.

A subida registada hoje foi de cerca de 2%, chegando aos 70.74 USD por barril, embora, com o passar das primeiras horas de exercício, o mercado londrino tenha descido ligeiramente, para os 69.75 USD, cerca das 11:00.

Por detrás deste comportamento da matéria-prima, que é um bónus para as contas públicas nacionais, visto que a economia angolana é, como se sabe, fortemente dependente das exportações petrolíferas, está a retórica belicista dos Estados Unidos e do Irão.

Washington, pela voz do Presidente Trump, garante que se quaisquer bens norte-americanos ou cidadãos forem atacados pelo Irão em retaliação pela morte de Qassem Soleimani, responderá com força em 52 locais estratégicos iranianos, enquanto de Teerão, logo após o assassinato em Bagdade, chegou a garantia de que a morte do general será "vingada severamente".

Neste contexto de incerteza, porque o Médio Oriente concentra alguns dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo, mais de 30% do crude consumido diariamente em todo o planeta - o Irão é um dos mais importantes, embora esteja impedido de exportar todo o seu potencial devido às sanções dos EUA -, o receio de um súbito estancamento do fornecimento leva os mercados a agir com a forte subida no seu preço.

Mas outros dados estão a ser avançados pelas agências e sites especializados para este boom no petróleo: a ameaça dos EUA em impor sanções ao Iraque se, como, de facto, veio a suceder após a morte de Soleimani, este país exigisse a saída imediata das forças militares norte-americanas estacionadas no seu território desde 2003, aquando da invasão que levou ao fim do regime de Sadam Hussein, é um dos factores.

O outro é o declínio surpresa dos stocks petrolíferos dos EUA, que, na última semana de 2019, segundo dados oficiais da Administração norte-americana. Quando os analistas dos mercados esperavam uma queda de pouco mais de 3,1 milhões de barris, a realidade revelou-se muito diferente, com uma diminuição superior a 11,5 milhões de barris.

Isto é importante, porque, apesar de os EUA serem hoje o maior produtor de crude em todo o mundo, com mais de 12 milhões de barris por dia, não exportam, o que significa que a maior economia mundial está a consumir mais energia, sendo esse um indicador de primeira linha da saúde da sua economia e o plausível efeito sobre as restantes, incluindo a chinesa, que é a segunda mais pujante do planeta.

Mas há ainda a registar outro dado importante para este conjunto de factores que estão a encarecer o barril de crude, que é a crescente tensão na Líbia, outro importante produtor da OPEP.

O Governo em Tripoli está a ser atacado por um general "rebelde", Khalifa Belqasim Haftar, apoiado oficialmente pelo Egipto e pelos Emirados, e oficiosamente pelos EUA, Reino Unido e outros países europeus, enquanto o primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, reconhecido pela ONU, acaba de saber que a Turquia, num gesto inusitado e perigoso, acaba de fazer aprovar no Parlamento o envio de forças militares para a Líbia em seu apoio.

O cenário de potencial conflito entre os exércitos poderosos do Egipto e da Turquia em solo líbio, é uma tremenda dor de cabeça para a região e um factor claramente condutor de um regresso ao por do caos que o país vive desde 2011, quando Muammar Khaddafi foi deposto e assassinado com o apoio dos EUA e da França.