Como bem se sabe, quando a maior economia do mundo se constipa, o risca de pandemia de gripe no resto do mundo aumenta visivelmente, e os mercados petrolíferos estão bem cientes disso, respondendo na quarta-feira com uma baixa acentuada no valor do barril.

O Brent, em Londres, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, caiu mais de 2,5 dólares durante o dia de quarta-feira, para perto dos 80,5 USD, pressionado pelas notícias vindas do outro lado do Atlântico, mas, já na manhã desta quinta-feira, os ventos mudaram e assistia-se logo cedo, perto das 09:30, hora de Luanda, a uma ligeira recuperação.

A essa hora, o barril de Brent estava a valer, nos contratos para Março, 81,15 USD, mais 0,71% que no fecho da sessão anterior, sendo o cenário muito semelhante no WTI de Nova Iorque, onde a medida standard estava a valer, à mesma hora, 74,42 USD, mais 0,59%.

Esta movimentações nos gráficos de Londres e Nova Iorque são ainda, lembra a Reuters, uma procura dos investidores de "recalibrar" os mercados de forma a melhor encaixar aquilo que todos já dão como certo, que é o regresso da China, a segunda maior economia do mundo e o maior importador de energia, aos bom s velhos tempos de crescimento económico robusto e consumo acelerado, reduzindo o impacto dos dados menos efusivos vindos dos EUA e de outras grandes economias ocidentais.

Ainda a dar viço a este momento de novas cores para o comércio global de crude, a Rússia, um dos maiores produtores do mundo, sujeito a sanções historicamente pesadas por parte da União Europeia e dos EUA, continua a enxaguar a sua produção, indo ainda mais longe que o corte de 500 mil barris por dia em Março, anunciados previamente.

Um ligeira desvalorização do dólar norte-americano face ao cabaz das principais moedas, está a ajudar neste movimento, porque sendo ainda a moeda norte-americana a referência neste negócio, apesar das tentativas para reduzir esse poder por parte da China, Rússia, Índia ou mesmo da Arábia Saudita, fazendo negócios entre si nas respectivas moedas, as grandes economias precisam de adquirir menos dólares para as suas aquisições energéticas.

Igualmente importante, como aponta a Agência Internacional de Energia (AIE) é a continuada atenção de proximidade que a OPEP+, a organização que junta a OPEP e a Rússia desde 2017 para manter os mercados equilibrados, tem imposto, com cortes ou aumento da produção em função dos indicadores de consumo globais, estando neste momento num período de enxaguamento nas bombas de extracção na casa dos 2 milhões de barris por dia...

Esta contenção na produção da OPEP+, segundo o ministro saudita da Energia, Abdulaziz bin Salman, devera manter-se até ao final do ano de forma a evitar surpresas desagradáveis para o "cartel" ao qual Angola pertence desde 2007.

Recorde-se que ainda a 27 de Janeiro, há pouco mais de duas semanas, o barril de Brent valia quase 90 USD, sendo o declínio consistente gerado pelas incertezas nas economias ocidentais mais importantes.

Entre estas pontuam as economias alemã e a norte-americana, por exemplo, com subidas robustas nas taxas de juro pelos bancos centrais dos dois "blocos", União Europeia e EUA, com o combate à inflação como objectivo maior destas medidas, pressionando o consumo como um camartelo para baixar os preços dos bens. E quando o consumo desce, o valor do crude acompanha, sempre.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.