Mas amanhã o foco vai estar, seguramente, excepto se, como sucede amiúde, esses mesmos analistas optarem por atirar a realidade amarga para baixo do tapete, numa notícia que anda hoje pelos rodapés dos ecrãs dos canais de informação económica.

E se a Índia, o 3º maior importador de crude do mundo, com cerca de 5 milhões de barris por dia (mbpd), apenas atrás da China e dos EUA, passar, no advir breve, de importador a exportador? A resposta é simples: o mundo da energia deixará de ser o mesmo...

E é mesmo isso que pode vir a suceder, se se confirmarem as notícias de que a Índia, a economia mundial que mais rapidamente cresce nos últimos anos, e player incontornável do crescimento mundial a partir do Sul Global, tem reservas de crude por explorar na ordem dos 22 mil milhões de barris.

De acordo com as notícias desta quarta-feira, 17, a Índia dispõe de quatro gigantescas bacias sedimentares onde repousam intocáveis 22 mil milhões de barris de crude - o mundo consome anualmente cerca de 1,2 mil milhões - que, se começarem, como os analistas admitem que pode suceder em breve, a ser exploradas, mudarão radicalmente o negócio da energia global.

Para ter isso em perspectiva, basta analisar o actual consumo da Índia, cerca de 5 mbpd, o que é suficiente para fazer deste gigante asiático em rápido crescimento um dos pilares estratégicos do negócio, com as oscilações de consumo a terem já, mesmo que ainda não igual ao peso da China (11 mbpd) e dos EUA (20 mbpd mas mais de 12 mbpd produzidos internamente) forte impacto nos mercados e na respectiva oscilação no valor médio do barril.

Se a Índia reduzir as suas importações, a matéria-prima perde valor, mais ou menos acentuadamente conforme a dimensão dessa redução, mas se, como é bem possível, embora num futuro ligeiramente mais distante, passar de importador a exportador, então a queda no barril pode muito bem ser aterrador para as economias, como a angolana, que ainda dependem das exportações do sector petrolífero.

Para já, a ter em conta, mesmo que seja escrito num post it na parte menos visível no quadro das prioridades, estão estes nomes: Mahanadi, Andaman, Bengal e Kerala-Konkan. Os nomes das bacias das gigantescas reservas da Índia.

Porém, para as economias que dependem das exportações petrolíferas, estes anos vindouros, antes de a máquina indiana começar a carburar na exploração destes recursos, que vai, como admitem analistas citados pelas Reuters, depender em grande medida da entrada em cena de pelo menos uma major global, ainda vão a tempo de diversificar as fontes de receitas, como é o caso de Angola... porque, depois, será tarde demais.

Basta considerar que, segundo a Reuters, estes números podem mesmo ser ainda mais estratosféricos, porque apenas 10% dos seus 3,36 milhões de kms2 em bacias sedimentares identificadas estão a ser alvo de atenção, embora cerca de metade sejam em águas profundas...

Para já, as atenções dos mercados estão focadas nos "ecrãs" menos complexos, que são, por exemplo, as oscilações da robustez da economia chinesa, que mostra sinais de abrandamento, provocando esta quarta-feira, três dias consecutivos de perdas ligeiras nos mercados, ou da possibilidade de os EUA descerem as suas taxas de juro directoras.

E entre o peso demolidor da queda da robustez da economia chinesa e a esperança de mais procura nos EUA com a provável descida das taxas pela Reserva Federal, o barril de Brent, que serve de referência às exportações das ramas angolanas, estava em perda ligeira de 0,08 %, para os 83,72 USD, perto das 11:00, hora de Luanda.

O peso mais relevante para este deve e haver são os dados da economia chinesa, especialmente os que estão a ser publicitados pelo sector da refinação chinesa, que acumula descidas na procura reflectindo-se isso na diminuição das importações do gigante asiático.

A sossegar ligeiramente os mercados está o Outlook das grandes instituições financeiras mundiais, que apontam, com ligeiras oscilações, para um continuado crescimento da economia planetária numa média a rondar os 2% para os próximos dois a três anos.

Para as contas angolanas...

Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 83 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, ainda permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.