Inicialmente, este 01 de Março estava a ficar marcado, no negócio global do crude, por uma subida do valor do barril impulsionada pelos bons indicadores oriundos da China, o maior importador de energia do mundo.

Mas, logo a seguir, as agências de notícias e os sites especializados no sector, divulgaram dados sobre os stocks norte-americanos a indicar um aumento das reservas em gasolina e um crescendo igualmente relevante na oferta de crude, desequilibrando momentaneamente os mercados.

E, num ápice, de uma subida de quase 0,50%, para os 84,4 USD, o Brent, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, caiu abruptamente e mostrou-se a perder quase 0,35%, para os 83,11 USD, perto das 14:30, hora de luanda.

Porém, os analistas não deram muita importância a esta fase mais tremida nos mercados no que diz respeito às previsões de curto e médio prazo, valendo ainda o que a Agência Internacional de Energia e a OPEP perspectivam, que é uma subida paulatina mas sólida do valor da matéria-prima, embora menos efusivamente que a Goldman Sachs, que insiste que o barril vai chegar aos 100 USD antes do final do ano.

A manter os traders satisfeitos estão os dados emitidos pela "fábrica do mundo", onde a produção de manufacturados tem crescido solidamente, tirando a China de uma espécie de buraco negro onde caiu desde o início da pandemia da Covid-19 e, depois, com a continuada aplicação de medidas restritivas à mobilidade quando no ocidente já ninguém queria ouvir falar do Sars CoV-2.

A actividade das fábricas chineses não crescia á sete meses mas esse ciclo negativo foi interrompido em Fevereiro, quase exclusivamente por causa do abandono das medidas draconianas de restrições à mobilidade como forma de conter a pandemia.

Este dado é importante para os analistas porque se a China foi capaz de romper com os mais indicadores que vinham de longe logo a seguir a ter deixado os confinamentos extingurem-se, isso significa que o mundo mostrou no segundo seguinte disponibilidade para aumentar as importações da China.

Ou seja, eram os condicionamentos locais à produção que levaram à baixa das exportações na China, o que, para o negócio principal das petroeconomias quer dizer que o consumo de crude pela China ressentiu-se de imediato positivamente.

E este aumento das exportações chinesas, e as importações de crude a acompanhar, deve manter-se para o meio do ano em curso, pelo menos, não havendo receios de maior no que toca ao aumento das reservas nos EUA, porque estes aumentos sucedem-se a uma fase de libertação de mais de 200 milhões de barris das reservas estratégicas norte-americanas pelo Presidente BIden.

Esta atitude de Biden, motivada por questões políticas internas, nomeadamente eleitorais - as Presidenciais nos EUA vão ter lugar já em 2024 -, que vingou durante os últimos meses, levou a que o mercado global visse aumentar a oferta de forma significativa, coincidindo com um decréscimo das importações chinesas, mas esses factores condicionantes estão-se a esfumar e a ser levados pelo vento, embora a guerra na Ucrânia que tarda a acabar, possa gerar um tornado que volte a colocar tudo em pantanas novamente.

No entanto, para já, como a Reuters noticiou, o conflito no leste europeu tende a deixar de ter impacto no curso da economia global, porque a Rússia, fortemente impactada pelas sanções ocidentais, as maiores de sempre aplicadas a um país, voltou agora aos níveis de produção pré-guerra.

Embora isso deixe claro que as sanções da União Europeia estejam a falhar rotundamente, pelo menos no sector energético russo, por outro lado mostra uma saúde invejável da economia planetária, que é muito mais que os dados da Europa ocidental e dos EUA, porque Moscovo foi capaz de substituir as vendas aos europeus por novos destinos a oriente e a sul, onde a actividade económica mostra um crescente viço apesar das dores de cabeça que isso impõe a Washington, Paris ou Londres...

Todavia, as repetidas subidas nas taxas de juro dos bancos centrais ocidentais para combater a inflação, para já com pouco sucesso, podem ser outro elemento a modificar o curso normal da história da economia global.

Mas, até ver, para Angola, este bom momento do sector petrolífero, e da economia global, são boas notícias

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.