E isso teve efeitos imediatos nos gráficos do Brent, em Londres, a referência principal para as exportações angolanas, e no WTI, em Nova Iorque, que mede a temperatura da maior economia mundial como um electrocardiograma, permitindo ao barril respirar de alívio, pelo menos para já.

Depois de quatro semanas consecutivas a perder valor, tendo mesmo passado, em meados de Outubro, de 94 USD para os 77 USD na passada sexta-feira, 17, o barril de Brent iniciou esta semana com ganhos relevantes, chegando aos 81,59, mais 1,13 % que no fecho anterior, sob o impulso fornecido pela promessa de novos cortes na OPEP+, organização que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) à Rússia e mais um grupo de exportadores independentes, para manter os preços equilibrados através de uma agressiva política de cortes na produção.

As perdas recentes são resultado de indícios de perda de vigor da economia global, com sinais de quebras no consumo de energias fósseis, e nas tensões no Médio Oriente, que, num primeiro momento ameaçaram o caos no Médio Oriente, de onde sai diariamente 40% do crude consumido no mundo, mas que, com o passar das semanas, essa ameaça de alastramento da Faixa de Gaza para a vizinhança foi-se desmaterializando e, com isso, a desvalorização da matéria-prima acentuou-se.

Face a esse cenário, os lideres de facto da OPEP+, Rússia e Arábia Saudita, os dois gigantes mundiais da exportação e produção, mandaram tocar as campainhas de alarme e anunciaram uma reunião com lastro de urgência para o próximo Domingo, 26, com fontes a admitirem estrategicamente que este encontro terá em cima da mesa cortes adicionais na produção do "cartel" que é, actualmente, dono de 50% da produção mundial, na casa dos 103 milhões de barris por dia (mbpd).

A questão é saber se os seus membros ainda têm margem para cortar sem abrir alçapões nas suas economias que possam ser problemáticos, porque, neste momento, a OPEP+ está a retirar 3,6 mbpd e sauditas e russos são, de motu proprio, responsáveis por mais 1,3 mbpd, sendo a parte de leão garantida por Riade, 1 mbpd.

Sabe-se que a Arábia Saudita e a Rússia, ambos com economias muito dependentes do crude, têm mais margem para cortes que a maior parte dos seus "sócios" na OPEP+, porque conseguem um break-even muito mais baixo que, por exemplo, Angola ou Nigéria, para referir apenas os maiores produtores africanos, mas também estão a atravessar crises severas nas suas contas publicas, com défices relevantes em Riade e uma economia de guerra para gerir em Moscovo.

A decisão que vier a ser tomada no próximo encontro da OPEP+ terá esta realidade como pano de fundo, embora alguns analistas admitam que já não chega anunciar prolongamentos dos programas de cortes no calendário, só com substancialmente menos petróleo disponível é que os mercados reagirão agora em alta, porque estes aumentos verificados hoje já carregam os ganhos provenientes do anúncio feito.

Facto é que as economias petrodependentes, de onde a angolana se destaca, estão a atravessar uma fase complexa, porque ou a acção é imediata ou as consequências podem ser severas.

E isso é o mais fácil de perceber enquanto urgência mas o mais difícil de fazer: o barril passou de 95 USD em meados de Outubro para 77 USD nesta sexta-feira, 17 de Novembro, perdendo no caminho de apenas um mês 17 USD, o que, para um país como Angola, cuja economia depende em grande medida das exportações de crude, e que produz cerca de 1,1 milhões de barris por dia, é... é fazer as contas.

E são estas

O petróleo representa hoje mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Sendo um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, para Angola ter o Brent nos 80 USD não permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista em que vive actualmente, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Mesmo com o uso de 65 USD como valor de referência média anual para o barril no OGE 2024, contra os 75 em 2023, esta descida recente do valor da matéria-prima criar dificuldades acrescidas ao Governo angolano.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de manter a produção nacional acima de 1,1 mbpd com os campos "Ndola Sul", "Agogo Fuel ou os projectos "Begónia", "Cameia" e "Golfinho", gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travado por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.