Para que Leonard Phiri e Jasten Candunde fossem condenados o juiz zambiano que lavrou a sentença recorreu à Lei da Feitiçaria, data de 1914, quando este país ainda era uma colónia britânica.
Na altura em que esta lei foi aprovada, o poder colonial tinha em mente controlar as práticas persistentes de feitiçaria, uma tradição local como, de resto, é comum em todos os continentes mas com especial enfoque em África.
A Lei da Feitiçaria abrange todos os exercícios de uso do poder sobrenatural, feitiçaria, encantamento com o objectivo de causar medo, agressões ou confusão mental, sendo que a moldura penal aplicável são três anos de cadeia efectiva.
A feitiçaria é uma das causas mais citadas em relatórios internacionais entre as causas humanas que contribuem para a dispersão de epidemias em algumas zonas de África, porque os denominados curandeiros tradicionais são comummente preferidos para tratamento de infectados em detrimento dos postos de saúde oficiais.
Desta feita, estes métodos atípicos foram usados por dois homens para tentarem assassinar, segundo a sentença do tribunal de Lusaca, Hakainde Hichilema, sob contrato de um terceiro indivíduo desalinhado com as políticas seguidas pelo Presidente zambiano e irmão de um deputado.
Como noticia o britânico The Guardian, Leonard Phiri é um chefe de uma pequena aldeia e Jasten Mabulesse Candunde é um cidadão moçambicano, que tinham sido detidos preventivamente em Dezembro do ano passado, na posse de objectivos relacionados com a feitiçaria e a produzir sons bizarros.
De acordo com a sentença, os investigadores concluíram que os dois homens estavam, no momento da detenção, a elaborar um complexo processo sobrenatural para tirar a vida ao Presidente da Zâmbia.
Face às evidencias, Leonard Phiri e Jasten Candunde foram condenados a dois anos de cadeia efectiva em regime de trabalhos pesados.
Esta condenação acontece num altura em que Hichilema, depois de ter sido considerado, pelo anterior Presidente dos EUA, Joe Biden, um exemplo a seguir, é apontado pelos media locais e organizações internacionais como estando a usar excesso de poder no combate político e prepara um ataque à Constituição para benefícios próprios e de forma a obter ganhos nos seus objectivos políticos.
A Human Rights Watch acusou mesmo Hichilema de exercer o poder com "autoritarismo", intimidação de adversários e perseguição a jornalistas, entre outras práticas anti-democráticas.
As eleições gerais na Zâmbia vão ter lugar, seguindo o calendário normal, a 13 de Agosto de 2026 e o actual Presidente, de 63 anos, mas com um longo registo de candidaturas falhadas desde 2006, pode, de acordo com a Constituição, avançar para uma recandidatura.